O presidente da França, Emmanuel Macron, nomeou nessa terça-feira (9) o aliado Sebastien Lecornu, um antigo aliado conservador que apoiou sua candidatura presidencial em 2017, como primeiro-ministro, contrariando expectativas de que pudesse se inclinar para a esquerda. A escolha de Lecornu, de 39 anos, indica a determinação de Macron em continuar com um governo minoritário, que apoia firmemente sua agenda de reforma econômica pró-negócios, sob a qual os impostos sobre as empresas e os ricos foram reduzidos e a idade de aposentadoria foi postergada. Macron foi forçado a nomear um quinto primeiro-ministro em menos de dois anos após o Parlamento destituir François Bayrou, nove meses após o início de seu mandato, por causar de seus planos para controlar a dívida crescente do país. Ao entregar o cargo a Lecornu, Macron corre o risco de isolar o Partido Socialista, de centro-esquerda, e deixa o presidente e seu governo dependendo da legenda de extrema-direita Rally Nacional, de Marine Le Pen, para obter apoio no Parlamento. A prioridade imediata de Lecornu será obter consenso sobre um orçamento para 2026, tarefa que levou à ruína de Bayrou, que pressionava por cortes de gastos agressivos para controlar um déficit de quase o dobro do teto da União Europeia (UE) de 3% do Produto Interno Bruto (PIB). A agitação política desta semana revela a profunda turbulência na França, que enfraquece a segunda maior economia da zona do euro à medida que se afunda ainda mais em um atoleiro de dívidas. A nomeação de Lecornu não é isenta de riscos para Macron. Ele pode parecer que não escuta anseios populares em um momento de descontentamento latente e de pesquisas apontando o desejo de mudança por parte dos eleitores. Protestos nacionais do tipo "Block Everything" (bloqueie tudo), marcados para esta quarta-feira, ameaçam provocar transtorno generalizado. Recentemente, Lecornu atuou como ministro da Defesa de Macron, supervisionando um aumento nos gastos na área e ajudando a moldar o pensamento europeu sobre garantias de segurança para a Ucrânia, caso um acordo de paz com a Rússia seja negociado. Lecornu entrou para a política fazendo campanha para o ex-presidente Nicolas Sarkozy quando tinha 16 anos. Tornou-se prefeito de uma pequena cidade na Normandia quando completou 18 anos e, aos 22, o mais jovem assessor do governo do ex-presidente Sarkozy. Ele deixou o partido conservador Les Republicains para se juntar ao movimento político centrista de Macron quando o presidente foi eleito pela primeira vez em 2017. Cinco anos depois, dirigiu a campanha de reeleição de Macron. Ao nomear um ministro de seu próprio campo com formação conservadora, Macron parece ter decidido preservar seu legado econômico a todo custo. Os socialistas haviam prometido reverter algumas de suas principais políticas pró-negócios, incluindo a eliminação de um imposto sobre a fortuna e o aumento da idade de aposentadoria, pontos que o presidente considera essenciais para tornar a França atraente para os investidores. *É proibida a reprodução deste conteúdo. Relacionadas Macron busca novo primeiro-ministro após colapso do governo