Cerca de 1.500 agricultores, segundo a polícia, e mais de 5 mil, segundo associações do setor, se manifestaram nesta segunda-feira (16) em Madri contra "a concorrência desleal" do acordo de comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul. "Se alguma coisa, neste momento, constitui verdadeira ameaça para o nosso setor é a proliferação de acordos de livre comércio da UE com outros países", consideraram duas das maiores associações de agricultores da Espanha, a Coag e a Asaja, no comunicado conjunto em que convocaram o protesto de hoje, que teve ainda o apoio das Cooperativas Agroalimentares espanholas. Para essas associações e confederações, as importações de produtos agrícolas dos países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), do Chile, de Marrocos ou da Nova Zelândia, com preços inferiores aos custos de produção na União Europeia "e sem cumprirem as regras vigentes para as produções comunitárias têm impacto grave nos agricultores espanhóis e europeus e provocam perdas incomportáveis e o encerramento de explorações". As políticas europeias para agricultura, e em especial aquilo que consideram ser a excessiva burocracia e extrema regulamentação aplicada às produções no espaço europeu, já esteve na origem de manifestações de agricultores em diversos países da UE, incluindo a Espanha, na primeira metade deste ano, nos meses e semanas que precederam as eleições de junho para o Parlamento Europeu. A Asaja e a Coag - que levaram centenas de tratores e milhares de pessoas em protesto ao centro de Madri em fevereiro e março - lembraram que essas reivindicações se mantêm atuais. Nos protestos desta segunda-feira, em frente ao Ministério da Agricultura da Espanha, houve críticas à Comissão Europeia, mas sobretudo ao governo espanhol e ao ministro do setor, Luis Planas. Após as manifestações de fevereiro e março, Planas assinou acordo com as associações de agricultores e comprometeu-se com 43 medidas que os manifestantes dizem estarem longe de ser cumpridas. A Asaja e a Coag perguntaram ainda onde estão, nos acordos de livre comércio da UE com outros países, as garantias das prometidas "cláusulas espelho" por parte do governo espanhol. As "cláusulas espelho" consistem na imposição das regras de produção aplicadas dentro da UE aos produtos importados. Os manifestantes lamentaram ainda que o governo espanhol tenha sido um dos maiores defensores, dentro da UE, do acordo de livre comércio com o Mercosul. "Aquilo que viemos dizer ao ministro Planas é que o acordo com o Mercosul é uma traição à agricultura espanhola", disse aos jornalistas o presidente da Asaja, Pedro Barato. "Concorrência desleal", "Stop Mercosul", "Não à concorrência desleal", "Europa sem soberania alimentar não é Europa" ou "Ursula von der Leyen, cruella de vil da agricultura" foram algumas das frases que os agricultores levaram em cartazes à manifestação no centro de Madri. Nos alto-falantes instalados no local, dirigentes das organizações agrícolas gritaram que os agricultores estão "fartos" após um ano de reivindicações, prometeram "guerra, guerra, guerra" se não houver respostas e prometeram ir "também a Bruxelas para dizer aos burocratas" que as políticas da UE arruínam o setor. "A agricultura não se vende, a agricultura se defende" e "não ao Mercosul" foram algumas das frases gritadas pelos manifestantes, que acompanharam os protestos com chocalhos, vuvuzelas e petardos. O acordo de comércio entre a UE e o Mercosul foi selado em 6 de dezembro em Montevidéu e espera agora a ratificação por todas as partes. A Espanha é o primeiro exportador da UE de frutas e legumes. *É proibida a reprodução deste conteúdo. Relacionadas Acordo com Mercosul coloca economias europeias em lados opostos Acordo UE/Mercosul deve aumentar comércio do Brasil em R$ 94 bilhões Entenda como ficam as exportações agrícolas após acordo Mercosul-UE