Felipe Camargo encara cada novo personagem como um "salto no abismo". Mas, para viver o Bernardo nas duas fases de "Além do Tempo", ele admite que o "mergulho" foi maior. Antes um desmemoriado e agora um escritor e documentarista, o papel na trama de Elizabeth Jhin é um dos mais difíceis da carreira do ator, que completa 30 anos de televisão em 2016. "São bem complexos individualmente. Trabalhei muito o gestual e fiz uma atuação mais comedida na primeira parte da novela. Na fase atual, já consigo ter o personagem mais próximo, mas me dediquei para criar o estofo dele, que é um cara intelectual e bem articulado. A experiência de ter dois papéis diferentes e complementares em um mesmo projeto é enriquecedora", garante.
Aos 55 anos, Felipe evidencia com muito trabalho e bom humor que deixou os "fantasmas" para trás. Depois de estrear como protagonista em "Anos Dourados", de 1986, o ator experimentou de forma intensa os altos e baixos da carreira. Com passagens pela Band e Manchete, foi na Globo que ele desenvolveu sua relação com a tevê. Depois de papéis de destaque em novelas como "Mandala" e "Despedida de Solteiro", acabou levando os problemas de sua relação com a também atriz Vera Fischer para os bastidores de "Pátria Minha", de 1994.
O ator só retornou à Globo em 1998 para viver um pequeno papel em "Corpo Dourado". Depois de outras participações de menor repercussão, a "virada" de Felipe ocorreu em 2009, ao protagonizar a série "Som & Fúria", de Fernando Meirelles. "Acho que foi onde viram que eu continuava competente para papéis mais complexos. Foi uma oportunidade única", analisa o ator, que, a partir de então, se reconectou com os estúdios e vem acumulando personagens importantes em tramas como "Cordel Encantado" e "Sangue Bom".
Tempo amigo
Felipe aprendeu de forma dura como funcionam as engrenagens da televisão. O sucesso repentino como protagonista de "Anos Dourados" o fez "perder" um pouco a realidade. Algo que, aos 26 anos, ele assume que não soube administrar. "Eu era muito imaturo. Um certo deslumbramento, ligado a uma vida pessoal com alguns excessos, e nenhuma base sobre como funcionava essa indústria moldaram os primeiros anos da minha carreira", analisa.
Depois de alguns problemas, Felipe acabou marcando presença bissexta na tevê entre a metade dos anos 1990 e início dos anos 2000. Mas ele não parou. Investiu no teatro e em uma carreira no cinema. "As pessoas acham que eu fiquei um longo tempo sem trabalhar, mas não foi assim. Estava apenas um pouco distante da tevê. Precisava de um tempo para respirar e voltar renovado. E foi isso o que aconteceu", valoriza. ("Além do Tempo", Globo. De segunda-feira a sábado, às 18h20).