A campanha Setembro Amarelo, que tem como foco a prevenção ao suicídio, surgiu em 2013, com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), e em 2014 com o Conselho Federal de Medicina (CFM), conquistou mais parceiros. Segundo a enfermeira e especialista em suicidologia, Isabele Trindade, que trabalha no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Alumiar, em Suzano, a campanha é importante para manter ativa a luta da prevenção ao suicídio, orientando a população para o problema que precisa ser combatido. 

O mês foi escolhido em referência ao Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, celebrado na próxima terça-feira,  dia 10 de setembro. Neste ano, o lema da campanha é “Se precisar, peça ajuda!”. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), entre jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi  quarta causa de morte, ficando atrás de acidentes de trânsito, tuberculose e violência interpessoal. 

“As pessoas pensam na saúde mental, pensam na valorização da vida, mas na correria e preocupações do dia a dia, a gente esquece da emergência de cuidar desse assunto. Então, essa data traz na memória a consciência do autocuidado e do cuidar do outro. A prevenção do suicídio não é só da pessoa sozinha, cuidando de si, mas sim da comunidade se cuidando, de sermos uma rede de apoio um para o outro”, afirmou a especialista.  

A enfermeira também explica que o ser humano, como um ser sociável, tem a necessidade de se sentir pertencente a um grupo, e por isso a saúde mental deve ser uma prioridade, é por ela que a prevenção se inicia. “Tudo que fazemos envolve nossos pensamentos e sentimentos, então a forma como a gente se enxerga, como nos valorizamos e como nos sentimos incluídos nos nossos espaços sociais é importante. Quando falamos de saúde mental é isso, ver que você faz parte da sociedade, que a sua vida é importante”. 

Prevenção

Isabele ressalta que a prevenção do suicídio tem três níveis diferentes, e deve começar antes mesmo do pensamento suicida. A recomendação inicial é cuidar da saúde física com exercícios e boa alimentação, e da saúde mental, valorizando sua vida, entendendo seus sentimentos e tendo uma rede de apoio.

O segundo ato preventivo é quando a pessoa começa a ter pensamentos de morte, e a achar que a morte é uma solução para a vida. Nesse estágio é importante ter uma rede de apoio e procurar a rede de saúde para ter ajuda. É importante também que as pessoas prestem atenção em sinais como frases: 'Eu não aguento mais', 'Eu queria passar o dia inteiro dormindo', 'Eu queria morrer', e que a partir deles, comece um trabalho de valorização da vida, de conversa, de tentar afastar esses pensamentos. 

O terceiro nível de prevenção, de acordo com a especialista, se dá quando após a tentativa de suicídio. Nesse estágio é sempre indicado uma prevenção mais direcionada, com profissionais qualificados para tratar as motivações e assim prevenir que o ato se conclua.  

Alertas

As campanhas falam sobre sinais de alerta, mas, a enfermeira ressalta que eles mudam de pessoa para pessoa, e principalmente para cada faixa etária. Em adolescentes e jovens, por exemplo, segundo ela, os sinais de alerta podem ser compreendidos mais facilmente em redes sociais, com postagens e mudança comportamental, enquanto em idosos pode ser visto com uma súbita vontade de deixar a vida resolvida, e de se desfazer de pertences de “estimação”. 

“Às vezes muitas propagandas falam que a pessoa deu sinais, e isso acaba jogando a culpa para o outro. Mas, é importante dizer que quando temos um vínculo afetivo, como mães, pais, irmãos, cônjuges, fica mais difícil identificar sinais, porque nunca imaginamos que aquela pessoa está sofrendo tanto a esse ponto. Justamente por isso a rede de apoio é tão importante, uma pessoa de fora pode identificar esses sinais mais facilmente”’, complementa. 

Saúde mental 

Isabele também destacou os desafios no campo da saúde mental: “Ainda nos dias de hoje existe um tabu grande sobre a saúde mental e terapia. A gente pode compreender isso melhor vendo que a taxa de suicídio de homens heteros é maior, justamente pessoas que acham que não podem demonstrar que não estão bem. Além disso, vivemos em uma sociedade muito egocêntrica e imediatista, queremos tudo pra ontem e temos cada vez menos amigos, isso prejudica a saúde mental”. 

A especialista salienta ainda a necessidade de entender cada grupo e suas diferentes motivações. “Saber acessar adolescentes, adultos e idosos é necessário para que a gente consiga enxergar sinais de alerta e ajudar, orientar, buscar ajuda. São muitos desafios, que em conjunto, comunidade e rede de saúde, podemos combater”, conclui.


*Texto supervisionado pelo editor. 

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