Há cerca de quatro anos, o executivo-chefe da aliança Renault-Nissan, Carlos Ghosn, afirmou em uma visita ao País que a filial brasileira da marca francesa não tinha planos para produzir uma picape com base na arquitetura do Duster/Logan/Sandero. Na realidade ele queria só despistar e, mais do que isso, esconder os planos para uma picape compacta de quatro portas no mercado nacional.
No Brasil, a primeira picape derivada de um hatch, em 1978, baseou-se no Fiat 147. Nesses 37 anos, o segmento cresceu e se diversificou. Representa uma nada desprezível participação em torno de 5% das vendas de todos os veículos leves. A marca italiana investiu na diversificação: cabines estendida, dupla e dupla com três portas. A Renault, porém, oferece agora um produto ainda mais conveniente, de quatro portas. Fiat Strada de três portas, líder inconteste nessa "praia", tem na Duster Oroch um concorrente de peso e ótima caçamba de 683 litros de volume.
A Oroch dispõe de motores 1,6 L/115 cv e 2 L/148 cv e câmbio manual de 5 marchas e 6 marchas, respectivamente. A segunda versão tem peso em ordem de marcha 54 kg maior (1.346 kg contra 1.292 kg), mas a capacidade de carga declarada é a mesma, 650 kg, algo tecnicamente incoerente. No início de 2016 estarão disponíveis versões 4x4 e câmbio automático. Preços são bem competitivos: R$ 62.290 a R$ 72.490, em especial por ter uma porta extra e, de longe, a cabine mais espaçosa para pernas, cabeças e ombros de três pessoas no banco traseiro, em razão da distância entre-eixos 15,5 cm maior que o SUV Duster.
Desenho da nova picape, em especial da seção traseira, é harmonioso com lanternas bem dimensionadas. O conjunto até agrada mais do que o próprio Duster, embora a terceira coluna merecesse linhas mais ousadas.
Belos trabalhos de reforços e ajustes das suspensões independentes na frente e atrás se destacam na nova picape. O motor de menor cilindrada tem que lidar com 90 kg extras em relação ao utilitário esporte do qual deriva. Por isso, a versão de 2 litros é melhor e faz diferença sensível para quem pretende, de fato, utilizar o veículo na plenitude de espaço e de carga. Freios traseiros deveriam ser a disco e não a tambor, considerando as características de uso do veículo.
Entre os acessórios há o batido kit de penduricalhos dentro do conceito "aventureiro" e recursos úteis como extensor de caçamba que serve de rampa para uma motocicleta, apresentado pela primeira vez na Strada.
Posição de guiar é boa, embora sem ajuste de distância do volante (apenas de altura com aquele sistema de "queda-livre", nada suave ao regular). Assistência hidráulica da direção está bem calibrada, enquanto o comando do câmbio por cabo permitiu evolução nas trocas de marchas. Visibilidade do quadro de instrumentos melhorou em relação ao Sandero/Logan. Sistema multimídia com tela tátil de sete polegadas é completo e inclui navegador GPS pouco intuitivo ao programar ou alterar rotas.
Duster Oroch, em resumo, é um produto que faltava no mercado brasileiro. Mais racional que as tradicionais e pesadas picapes médias e espaço interno bem superior às compactas. Atende trabalho e lazer a preço atraente.