Na clínica psicanalítica, é muito comum encontrar pacientes que carregam uma angústia diante das datas festivas, entre elas, o Natal costuma ocupar lugar de destaque. Eu mesmo já fui curado deste mal e compartilho. Nessa época do ano, quando alguém me deseja feliz Natal,  eu pauso e pergunto: Qual o Natal você me felicita?  A maioria já devolve um olhar de "que cara chato". No latim, Natal significa nascimento. Com o tempo, a palavra foi apropriada para representar o nascimento de Jesus, que, segundo os textos bíblicos, veio trazer boas notícias e esperança para esta vida e para o pós-morte. 

Os Evangelhos não registram a data exata de seu nascimento, e considerando as condições climáticas da região de Belém, é pouco provável que tenha ocorrido em dezembro, já que o período era frio, chuvoso e com neve em algumas regiões. A escolha oficial do 25 de dezembro ocorreu por volta de 350 d.C., sob o pontificado de Júlio I, como estratégia de cristianizar festividades pagãs já populares na época como rituais de troca de presentes, banquetes, árvores e símbolos de renovação.

No cristianismo contemporâneo, o tema ainda divide opiniões. Há quem aceite a data como simbolismo e há os que se preocupam com a mistura de elementos religiosos, culturais e comerciais, grupo ao qual pertenço. No chamado Mundo Secular, a literatura também ajudou a moldar o imaginário natalino. Um Conto de Natal, de Charles Dickens, consolidou valores como generosidade e solidariedade, conceitos oriundos do Bispo São Nicolau, que presenteava crianças em seu aniversário, inspirando ainda o Papai Noel do marketing da Coca-Cola, como conhecemos na atualidade.

Até a clássica imagem dos Três Reis Magos e três presentes é mais tradição do que texto bíblico, onde a Escritura não especifica o número de visitantes ao menino Jesus, não menciona que eles são reis, algo que não pode ser considerado um mero detalhe. Diante de tantos Natais possíveis, resta uma escolha consciência: Qual Natal celebrar?


Marcelo Barbosa é jornalista, pedagogo e psicanalista. Autor da trilogia “Favela no divã” e “A vida de cão do Requis”.