Nos últimos meses, estou realizando uma pesquisa de campo com aplicativos de mobilidade urbana, para entender como são classificadas as áreas de riscos de segurança das tais empresas de tecnologias que conectam passageiros e motoristas para viagem e entregas. Em geral, as áreas de risco são definidas pelas plataformas, através de modelos que analisam dados geográficos e feedbacks recebidos de motoristas, que criam mapas com alertas dependendo do horário, região entre outros.
Mas, uma observação é nítida. Toda localidade de favelas e comunidades são registradas como áreas de risco, onde o motorista pode ou não escolher ir ao destino. Os motoristas que atuam nos municípios, os famosos “motoristas da quebrada” sabem e conhecem a região e o quanto o termo é preconceituoso para a região. O passageiro, que muitas vezes, dependente desse serviço, fica pedindo para o Deus em que acredita, para o motorista aceitar, ou ainda, caso aceite, não cancele após saber o local de embarque.
Nas diversas viagens por aplicativos que participei, é possível entender que a métrica utilizada acontece por conta de motoristas que não são da região e julgam o ambiente. É uma percepção pessoal, social ou até mesmo preconceituosa com o espaço do qual está, que se torna uma referência de sinalização técnica.
Um motorista me apresentou que em um grupo de whatsapp, nenhum motorista indica problemas de segurança nas favelas ou comunidades do Alto Tietê e região, onde aliás, corridas em bairros nobres são vistos diversos problemas de segurança que o aplicativo não considera.
Em geral, identifiquei em várias viagens dos aplicativos de mobilidade urbana, que temos um recurso tecnológico que não tem uma base e método fiel de coletas de dados de segurança, mas de exercício de preconceito e exclusão social. Será que alguma prefeitura municipal da região vai defender os seus moradores? Será que teremos mais um problema de vulnerabilidade social para aceitar?
Marcelo Barbosa é jornalista, pedagogo e psicanalista. Autor da trilogia “Favela no divã” e “A vida de cão do Requis”.