O período das trevas, ou Idade das Trevas, é um termo usado para descrever um período na história europeia que se estende desde o declínio do Império Romano até o Renascimento. É caracterizado por um declínio demográfico, cultural e econômico, com uma redução significativa na escrita e na produção intelectual, além de uma maior influência religiosa na vida das pessoas.

Essa parte da história da humanidade é identificada como uma época quando se impôs o chamado obscurantismo. Fenômeno que surgiu no século XVI, mas que passou a receber esse nome a partir do século XVIII pelos filósofos iluministas, que se opunham à escuridão religiosa e propunham, ao contrário, que o conhecimento só poderia ser iluminado pela luz da razão.

É também associado a esse período, o movimento chamado de “caça às bruxas”, um movimento de perseguição religiosa, política e social.  Nos dias de hoje, o termo é usado para descrever a perseguição sistemática de um grupo a outro, frequentemente baseada em preconceito ou suspeição.

Vários recortes sociais indicam que, parte da sociedade, quer ressuscitar esse período. E isso não é um fenômeno local. Suas sementes estão espalhadas pelo mundo. Na chamada Idade Contemporânea, as ideias que movimentaram tais movimentos foram associadas ao pensamento conservador. São valores retrógrados que alimentam hoje, o esforço por sua retomada.

E o que testemunhamos com frequência no passado recente. Uma enxurrada de personagens grotescas que, impulsionadas por eleitores também grotescos, iniciaram uma série de ações de intimidação aos praticantes das artes, da ciência, da educação libertadora e do avanço das diferentes liberdades, por mais que eles cinicamente, dizem ser os guardiões da “liberdade de expressão. 

Uma aula sobre o conceito de tempo ministrada a estudantes do sexto ano em Ilhabela, município de São Paulo, desencadeou uma crise institucional que culminou no pedido de demissão do professor responsável.

Tal aula usou elementos da mitologia africana e grega para explorar visões culturais sobre o tempo. É importante ressaltar que a abordagem está em conformidade com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e com a Lei 10.639/2003, que regulam a atividade educacional.

No entanto, a “mente brilhante” de um vereador do PL publicou críticas ao conteúdo da aula que teve repercussão em parte dos pais dos alunos e ganhou dimensão Nacional, o que acabou resultando no pedido de demissão do professor que se sentiu desamparado pela posição assumida pela direção da escola e da prefeitura. 

E isso não é um fato isolado. Estamos ou não flertando com um passado tenebroso, acinzentado pela ignorância extrema, como já foi um dia?

Afonso Pola (acelsopp@gmail.com) é sociólogo e professor.