Nos últimos meses, estava realizando pesquisas de campo para escrever esse artigo, com o intuito de constatar algo que empiricamente sempre soube desse fenômeno na maioria das favelas e comunidades, uma nova forma de violência: A poluição sonora! Entrei em várias “quebradas” do Alto Tietê, Guaianazes, Cidade Tiradentes, e retornei ao local em que morei, em Heliópolis, zona sul de São Paulo, e o que observei tecnicamente: Sexta, sábado e domingo, carros com exuberantes caixas de som e o porta-malas abertos e motos barulhentas, são encontrados repetidamente durante o dia e até a noite. 

A poluição sonora ocorre quando o som altera a condição normal de audição em um determinado ambiente, afetando a saúde física e mental da população. De acordo com a Organização mundial de saúde (OMS), qualquer som que ultrapasse o valor de 50 decibéis pode ser considerado nocivo à saúde. Dentre os problemas causados aos seres humanos, podemos destacar: estresse, depressão, insônia, agressividade, perda de atenção, dor de cabeça, cansaço, zumbido, perda de audição temporária ou permanente. 

Não é de se estranhar o quanto o morador que vive nesse ambiente social está exposto a esse tipo de patologia, deve ter diversos sintomas sem saber a causa, e ainda adoece pela repressão de não poder reclamar ou ser diagnosticado corretamente. E aí fica uma boa pergunta: Cadê o Estado estruturando os ambientes de vulnerabilidade, organizando a vida civil e as regras de cidadania?

Sabemos que com as diversas pesquisas do comportamento humano, principalmente a minha área de atuação com esses espaços urbanos,  essa “geração do barulho”, quer transmitir a sua sensação de poder, quer curtir o seu entretenimento, encontrar formas de prazer ou ainda esquecer o quanto a vida é sofrida e passageira. O problema é que na atualidade isso é feito no meio da rua.  Não sou tão velho assim, mas quem quisesse curtir um pouco a vida em décadas passadas,  se deslocava para um lugar apropriado. 


Marcelo Barbosa é jornalista, pedagogo e psicanalista. Autor da trilogia “Favela no divã” e “A vida de cão do Requis”.