Com diferentes formações familiares existentes hoje, a paternidade se tornou, acima de tudo, uma escolha do coração. Neste Dia dos Pais, celebrado neste domingo (10), os moradores de Mogi das Cruzes Ivan Cardoso de Aguiar, que é pai solo, e o casal José Maria de Morais e Rinaldo Vinci compartilham sua trajetória de amor, amizade e desafios com os filhos.
O mecânico Ivan, de 52 anos, é pai solo de Giovana, 19, e Renan, 27, filhos de mães diferentes. Ivan conseguiu a guarda de Giovana quando ela tinha 6 anos — após disputa judicial — e, no caso de Renan, de forma amigável, já que a mãe abriu mão da custódia.
Mesmo com a ausência da figura materna, o morador do Jardim Modelo conta que não teve dificuldades para criar os filhos, o que ele acredita que foi possível graças ao amor. Com a ajuda da família, ele afirma que não faltaram carinho e atenção e que sempre apoiou incondicionalmente os filhos, e por meio do diálogo e da amizade, sempre buscou ensinar valores e educá-los com firmeza.
Para Ivan, se tornar pai foi a realização do maior sonho de sua vida. “Eu via os meus sobrinhos chegando em casa, brincava com eles, dava carinho. Quando eles iam embora, eu ficava em ninguém, e pensava: ‘poxa, eu também vou ter meu filho’”, lembra.
Segundo ele, a base da relação com os filhos sempre foi o amor, a parceria e o respeito. Para o pai, cultivar essa relação de companheirismo desde cedo foi o que construiu e fortaleceu a amizade que eles têm até hoje. Renan, que atualmente mora com a mãe, trabalha com o pai na oficina mecânica da família.
Já Giovana, a quem Ivan chama carinhosamente de seu “braço direito”, continua morando com ele e sendo sua companhia diária. “São 24 horas juntos, todos os finais de semana passeamos. São vários lugares em que estamos eu e minha filha, parceiros para aproveitar a vida. É ela quem cuida de tudo hoje. Ela me ajuda do que eu ajudo ela”, contou.
“Sou um pai solo, criei eles desde pequenos. Nunca faltou nada, meus filhos me amam, e eu amo eles demais. É um respeito recíproco. Estou com os dois acima de tudo, para o que der e vier”, declarou o pai.
Pais adotivos
O psicólogo José, 65, e o empresário Rinaldo, 61, juntos há 41 anos, adotaram Wesley, hoje com 14 anos, em dezembro de 2021. Eles, que moram na Vila Suissa, relatam que o processo teve início em janeiro de 2020 e foi marcado principalmente pela expectativa de conhecer pessoalmente o futuro filho. A etapa de aproximação — fase em que a criança e os pretendentes à adoção começam a conviver gradualmente — ocorreu de forma virtual em razão da recente pandemia da Covid-19.
O casal decidiu adotar após participar de um projeto de apadrinhamento afetivo — uma iniciativa que promove vínculos afetivos entre voluntários e crianças e adolescentes acolhidos em abrigos. Em diferentes períodos, eles apadrinharam duas crianças e dois adolescentes, e um deles morou com o casal durante seis meses e o outro durante 1 ano e seis meses. A partir da experiência, José e Rinaldo sentiram o desejo de ter o próprio filho.
Outro momento marcante do processo, como lembrou José, foi o pedido que Wesley fez, dias antes da autorização para a guarda provisória, de visitar o túmulo de sua mãe biológica — local onde ele nunca havia ido — para uma despedida.
O casal descreve a paternidade por adoção como uma experiência maravilhosa e gratificante, mas também desafiadora. Eles explicam que o maior desafio é a construção de vínculos emocionais na fase de adaptação à nova vida em família, passando pelo diálogo e regras combinadas. O caminho para isso, segundo os dois, é a consciência do papel de pais e também buscar compreender o histórico de vida da criança que será adotada.
“As relações nunca são fáceis, contudo, fizemos alguns acordos. Tudo é conversado e assim vamos administrando. A construção dos vínculos aconteceu de uma forma muito natural desde o início. É fundamental que esta construção seja contínua, as pessoas mudam e nós não somos diferentes”, pontuou o psicólogo.
Para José e Rinaldo, a paternidade representa assumir a responsabilidade de acompanhar o crescimento e o desenvolvimento de uma pessoa, não só suprindo suas necessidades, mas também contribuindo para que ela se torne protagonista da própria vida, sempre respeitando sua origem.
Novas famílias
Enquanto casal homoafetivo, José e Rinaldo afirmam nunca ter identificado qualquer tipo de discriminação em relação à adoção de Wesley, o que eles atribuem ao posicionamento efetivo, com conhecimento dos seus direitos, o que não dá espaço ao preconceito.
“É muito importante que as pessoas que desejam formar ou ampliar sua família por meio da adoção busquem estar bem informadas dos aspectos legais que estão inseridos nos diferentes modelos familiares: heteroparental, homoparental, transparental, monoparental, entre outras possíveis configurações”, concluiu José.
*Texto supervisionado pelo editor.