Como sempre acontece, todas as vezes que a extrema direita ganha força, seja em aliança com a direita tradicional ou seja com o militarismo, a intelectualidade progressista se debruça sobre o fenômeno para compreendê-lo e traçar um caminho à esquerda. E como algo aparentemente natural, neste momento, os olhares se voltam para Rosa Luxemburgo. A Rosa revolucionária, jornalista polonesa, considerada por muitos como a mais importante teórica marxista da geração depois de Marx. O que a Rosa teria sobre os dias de hoje?

Inspirada na previsão de Marx de que o capitalismo seria superado pelo socialismo ou pela barbárie, Luxemburgo adotou esse mantra. Socialismo ou barbárie. Ela compreendeu que a mundialização do capital, ainda no começo do século 20, estava associada ao militarismo e a guerra. Bastante horrorizada com a violência desencadeada a partir de meados de 1914, ela identificava a barbárie com a guerra mundial. 

No nosso caso, que vivemos no século 21, a barbárie se constitui em sinônimo de capitalismo mundializado, uma guerra de todos contra todos e contra tudo: trabalho, natureza, populações tradicionais, antigos modos de vida comunitários. Mais de cem anos depois, uma lista interminável compõe a barbárie.

Vivemos num caótico capitalismo financeiro. Nunca a acumulação de riquezas foi tão intensa. Cerca de 1% da população mundial ganha 48% do PIB do planeta, e logo deve ultrapassar os 50%. 

Só para descrever a dramaticidade da situação, durante a crise de 2008, Eike Batista perdeu cerca de US$ 10 bilhões de sua fortuna calculada em US$ 16 bilhões. Ao mesmo tempo, a Somália, um país africano com uma população de 17,6 milhões de habitantes, tinha um PIB de US$ 10,42 bilhões, algo equivalente ao que o Eike Batista perdeu naquela crise.

Esta concentração de riqueza desenfreada, está associada a outras inúmeras questões que muito nos afligem. O modelo de desenvolvimento econômico que tomou conta do século XX, particularmente na sua segunda metade, consumiu recursos naturais de uma forma desenfreada, nos colocando diante do fenômeno do aquecimento global, com o aquecimento das águas dos oceanos e a necessidade de convivermos com as consequências das mudanças climáticas.

Os donos do capital também já estão sentindo os efeitos dessas práticas predatórias. Casos recentes nos Estados Unidos mostram que efeitos da mudança dos padrões climáticos estão causando danos a estruturas imponentes como pontes. Calor extremo e aumento de inundações são os principais fatores prejudiciais. O comprometimento de pontes acaba repercutindo de forma negativa no trânsito das pessoas, bem como das mercadorias.

Sem contar o número de cidades no Brasil e em outros países que devem perder parte de seu território para o aumento do volume de águas dos oceanos. É a natureza apresentando a fatura.


Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor.