Todos os formandos de um curso superior tem um juramento a ser feito no momento da colação de grau. Mas efetivamente, o juramento feito pelos formandos em medicina deve ser o mais conhecido.

O Juramento de Hipócrates é um juramento solene efetuado pelos médicos, tradicionalmente por ocasião de sua formatura, no qual juram praticar a medicina honestamente.

Acredita-se que o juramento tenha sido escrito por Hipócrates — amplamente considerado como o pai da medicina ocidental — ou por um dos seus alunos. O juramento original foi escrito em grego jónico (século V a.C.).
Em todas as versões desse juramento, e elas são muitas, algo é comum. O devido respeito à ciência. Ou seja, a medicina é uma importante área da ciência, e ela norteia toda a formação de um médico ou médica.

Sendo assim, algo me inquieta profundamente. Algo que foi exacerbado durante a pandemia da COVID-19. Médicos e médicas renegando a ciência. Médicos e médicas receitando medicamentos que não são eficazes no combate à doença. Médicos e médicas postando e compartilhando fake news a todo momento. Foi um verdadeiro espetáculo de horror.

Tenho uma irmã médica. Lembro que quando ela anunciou a sua vocação, meu pai teve uma longa conversa com ela, descrevendo o conjunto de responsabilidades e de compromissos pertinentes ao exercício da medicina. Ou seja, como diz um ditado popular, a medicina é um sacerdócio. 

Hoje, é comum lermos notícias de compra de vagas em cursos de medicina. Vagas essas que não saem por menos de duzentos mil reais. É óbvio que um jovem ou uma jovem de 18 ou 19 anos não tem recursos para tanto. Isso é um negócio de família. Sentam-se à mesa para combinar como farão o ilícito. Que tipo de médico ou médica se produz aí? 

Li, com muita tristeza, a notícia sobre o resultado da eleição para o Conselho Federal de Medicina. “Médico de SP que defendeu cloroquina ganha eleição polarizada em São Paulo”. Ou seja, é um negacionista, anticiência, que passou no mínimo seis anos numa universidade, para negar tudo o que aprendeu.  

E pior, foi eleito com votos de outros tantos que se formaram numa ciência absolutamente importante, e a negam ao dedicar seu voto em alguém assim. Como pode um médico indicar o uso de um determinado medicamento que a ciência já afirmou e reafirmou ser ineficaz para determinada enfermidade.
Fico muito impressionado ao viver em pleno século XXI e ver tantas trevas a nos rodear.

Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor.