Acompanhamos hoje o desenrolar de duas tragédias humanitárias em continentes diferentes. Uma ocorre na Asia, na região do Oriente Médio, mais precisamente na Faixa de Gaza. A outra no continente americano, mais precisamente no Brasil, no estado do Rio Grande do Sul.

A primeira catástrofe é o massacre ao povo palestino, promovido pelo estado de Israel. Em geral, a mídia trata o que está acontecendo lá como uma guerra. Não é, é um genocídio calculado e premeditado e com uma boa dose de conivência das grandes potências, cenário esse que tem mudado face a truculência hedionda praticada pelo exército israelense.

Só nesse final de semana, em 48 horas, Israel promoveu em 48 horas, sessenta ataques matando ao menos 45 pessoas, a grande maioria de civis, principalmente mulheres e crianças. Ao todo, mais de 32,5 mil pessoas foram mortas e mais de 75 mil foram feridos em 175 dias. 

Já no caso do Rio Grande do Sul, a tragédia é por conta das fortes chuvas que atingem o estado desde o dia 29 de abril do corrente ano. Os números da tragédia são muito significativos. São 463 os municípios atingidos pelas enchentes. Juntas, as cidades gaúchas já registraram 157 mortes, 88 desaparecidos, 806 feridos, aproximadamente 600 mil desalojados e um total de 2.336 milhões de afetados.

Mas afinal, qual seria o ponto em comum entre uma tragédia provocada por uma suposta guerra e outra provocada por um fenômeno da natureza. A resposta é até simples, a ação dos seres humanos. 

No caso de Israel, foi a ação dos donos do poder daquele estado que usaram um ataque feito pela organização terrorista do Hamas, bombardeando território israelense, como justificativa para a reação. No entanto, de acordo com reportagem do The New York Times, Israel sabia do plano de ataque do Hamas, mas ignorou. Suspeita-se que o comportamento do governo de Israel, tinha por objetivo produzir um motivo para justificar a ação violenta e genocida contra o povo palestino.

Já em relação ao Rio Grande do Sul, por mais que pareça ser um fenômeno natural, a mão humana está por trás desses acontecimentos. Fenômenos climáticos severos estão acontecendo em maior intensidade e quantidade, dado a ação humana na natureza. 

Por exemplo, a agropecuária intensiva tem efeito direto no aquecimento global e, no Brasil, o agro é responsável por 75% das emissões de gases de efeito estufa. A maior parte vem da mudança no uso da terra, que é a derrubada de biomas para dar lugar a pastos e plantações. As florestas esfriam o clima e têm um papel importante na regulação da temperatura do planeta.

Se não revertermos rapidamente as nossas ações degradantes na natureza, vamos conviver frequentemente com tragédias como essa. Vamos sofrer mais com elas do que com as possíveis guerras. 

 

Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor.