Se você ouvir a música “Não é Sério”, do Charlie Brown Jr, banda da década de 90, é capaz de se apegar com a levada do som e com o refrão título deste artigo.  Agora, tente ler sem pensar na melodia e reflita sobre a letra. Quando fiz este exercício, a minha interpretação foi de um jovem que não consegue se expressar, não tem o que quer, se revolta contra todos, não sabe o que defende e fuma maconha para ficar no clima de esquecer as dificuldades da vida, já que não se compreende e não é compreendido.

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O líder da banda Chorão, sempre apresentou em muitas de suas letras, os dilemas da fase de desenvolvimento do adolescente, conhecido como “rebelde”, onde segundo a Organização Mundial da Saúde, é dividida em três fases. Pré-adolescência, dos 10 aos 14 anos, Adolescência, dos 15 aos 19 anos completos, e Juventude, dos 15 aos 24 anos. 

Aliás, no documentário: “Chorão: Marginal Alado”, de 2019, ao assistir o conteúdo eu tive a percepção que na verdade as composições musicais eram a própria vida do cantor, quando apresenta um jovem imperfeito, procurando perfeição e se desgastando físico e emocionalmente com auxílio de drogas, falecendo em 2013, aos 42 anos, por overdose.

Relembrei este acontecimento da banda musical, após acompanhar os dados do SUS de 2011 a 2022, divulgado pela Fiocruz, no dia 20 de fevereiro, onde a unidade da instituição na Bahia em parceria com a Universidade Harvard, confirmou a tendência de aumento de suicídio e autolesões entre os jovens brasileiros. 

Apesar da triste amostragem, há um resultado na pesquisa que dá esperança. As taxas de notificação por autolesões aumentaram de forma consistente em todas as regiões do Brasil. Isso significa que o jovem está falando dos seus dilemas e pedindo ajuda. Não há outro caminho do que o diálogo aberto e sem preconceito entre os grupos sociais e o Estado. Este último, com políticas públicas específicas. Caso você ou algum jovem não sinta esta abertura de conversa e alívio, procure o Centro de Valorização da Vida, pelo telefone 188, que atende ligações gratuitas 24 horas por dia.

 

Marcelo Barbosa é jornalista, pedagogo e psicanalista. Autor da triologia “Favela no Divã” e “A vida de cão do Requis”.