Normalmente eu não escrevo minha coluna na primeira terça-feira do mês. É um outro articulista quem escreve. Mas como dessa vez ele está impossibilitado de fazê-lo, assumi a incumbência. 

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Como normalmente eu costumo digerir os temas dos meus artigos durante a semana, pois sempre escrevo na segunda-feira à tarde, dessa vez esse ritual não ocorreu como de costumes. E assim, fui buscar no passado a inspiração para escrever minha coluna.

Em 31 de março (data horrível da nossa história) de 2010, escrevi um artigo intitulado “gols de letras”. Era um artigo que fazia referência a um dos nossos monstros do jornalismo.

E a ideia do artigo surgiu quando, ao chegar em casa, fui surpreendido com uma pergunta do meu filho, que ainda não tinha dez anos: “quem foi esse tal de Armando Nogueira”. Assim como eu, meu filho Victor sempre foi muito apaixonado por futebol. E o velho Armando tinha falecido no dia 29 de março, um dia antes da pergunta.

Ele estava impressionado com a quantidade de depoimentos de pessoas ligadas ao mundo do futebol em homenagem ao tal Armando. Reproduzi, acrescentando alguns detalhes, as hilariantes frases criadas por ele para definir os gênios da bola e suas criações. Nilton Santos, Pelé, Mané, Zico, Rivelino, os da Guia e muitos outros, acabaram duplamente imortalizados com as fenomenais produções textuais desse que também é genial.

O Armando foi, e permanecerá sendo, um dos mais brilhantes jornalistas que habitou esse país. Inteligente, dinâmico, ousado e inovador são apenas alguns dos inúmeros adjetivos que acompanharam a sua vida. Homem de incomum habilidade com as palavras, ele transformava a simples narrativa de qualquer fato em riquíssima crônica.

Disse na época ao meu filho, que o Armando, assim como nós, dedicou uma boa dose do seu amor ao futebol e ao esporte em geral. Ele influenciou e continuará influenciando toda uma legião de jornalistas esportivos ou não, pois é exemplo do exercício digno da profissão.

Dos seus ídolos de quem tanto falou e escreveu tornou-se, pelo que se pode perceber, ídolo incondicional. Assumiu plenamente a condição de craque perante os craques que tanto enalteceu.    

Esse fabuloso tratador das palavras não as dominava, mas sim lhes dava vida. Viveu com elas e viverá por elas.

 

Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor