A prática de postar ou compartilhar fake News é um importante sintoma do processo de degradação social que vivemos. Como eu costumo dizer, só tem dois tipos de pessoas que postam ou compartilham fake news. Os ignorantes, pois eles desconhecem a natureza daquilo que eles divulgam, ou os canalhas que, mesmo sabendo que aquilo se trata de algo mentiroso, compartilham como se fosse verdade.

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Tal fato evidencia que vivemos um período de forte crise de valores. Ética, respeito, tolerância, transparência e compromisso com a verdade se tornaram coisas dispensáveis para uma parte da sociedade que, prefere cultuar a crença na mentira, em teorias da conspiração, no negacionismo e por aí vai. 

Mas para além dessa constatação que a prática das fakes news revela, há algo que ainda é mais preocupante. Mais do que os danos emocionais que são causados naqueles que são vítimas dessas fakes news, essa prática criminosa pode, em última instância, causar mortes. E não é exagero e nem força de expressão, é fato.

Em dezembro do ano passado, Rafael dos Santos Silva, de 22 anos, foi espancado até a morte após uma falsa notícia que o apontava como responsável pela morte de três cachorros ser divulgada. De acordo com a imprensa, um dos propagadores dessa fake é vereador da cidade de Suzano. 

Muitos especialistas costumam alertar sobre os riscos da disseminação das fake news. Até porque, não é a primeira vez que ocorre fato como esse. Em 2014, no Guarujá, uma tragédia como esta foi registrada.

Uma publicação na internet postada dois anos antes, trazia um retrato falado de uma mulher que supostamente raptava crianças no subúrbio do Rio de Janeiro, para rituais de magia negra. 

Dois anos depois, baseado nas características da mulher exibidas na postagem originada lá no Rio, Fabiane Maria de Jesus, moradora da cidade do Guarujá, foi amarrada, espancada e arrastada, por um grupo de moradores do bairro Morrinhos, na citada cidade. A agressão foi registrada em vídeo e, segundo os vizinhos, ela estava apanhando por ser a mulher que estava sequestrando crianças na região. Detalhe, não existia nenhum boletim de ocorrência registando o desaparecimento de crianças na região.

Fatos como esses mostram os danos que podem ser causados por uma prática tão nociva. Dois inocentes foram brutalmente assassinados por grupos ensandecidos, movidos pela estupidez que tanto caracteriza aquelas pessoas que atribuem ao que circula nas redes sociais, um caráter de verdade absoluta. 

É exatamente por isso, que muitas delas acreditam que a Terra é plana e que o aquecimento global não existe. 

Não estamos bem acompanhados.

 


Afonso Pola
(acelsopp@gmail.com) é sociólogo e professor.