Nunca a realidade foi tão confirmadora das frases do Nelson Rodrigues e do Umberto Eco. Não é a primeira vez que cito os dois em meus artigos. Mas suas frases são exemplares. 

O primeiro era brasileiro, escritor, jornalista, romancista, teatrólogo, contista e cronista de costumes e de futebol brasileiro. Certa vez ele disse o seguinte: "Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos". 

Já o segundo era italiano, escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo. Entre suas frases celebres destaca-se a seguinte: “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”. 

Pois é. Estamos vivendo a materialização dessas profecias. Mais de 6% dos brasileiros acreditam que a Terra é plana. Percentual bem maior que este jura que o “aquecimento global” é invenção da esquerda e que no Brasil não existe racismo. 

País com alta taxa de analfabetos funcionais, o Brasil é um ambiente fértil para a proliferação das famosas “teorias da conspiração” e para toda sorte de fake news. E o que presenciamos no período entre o início de 2019 e o final de 2022 foi ultrajante. Estávamos diante de uma pandemia causada por um vírus com alta capacidade de transmissão e que colocava em risco a vida das pessoas e, enquanto especialistas faziam diversas recomendações para que as pessoas se protegessem, algumas autoridades produziam e disseminavam informações falsas contrárias ao informado pelos especialistas. 

Tivemos também os acampamentos em frente aos quartéis do exército, onde pessoas financiadas por alguns empresários sem escrúpulos protagonizaram cenas patéticas, ao mesmo tempo em que pediam intervenção militar (golpe militar), prisão dos ministros do STF, entre outros absurdos. 

O ano de 2022 acabou. Mas ainda hoje estão sendo reveladas ações absurdas e criminosas praticadas por pessoas que atuavam no centro do poder. É o que tem mostrado as ações da PF no caso do uso da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), chamada de ABIN paralela. Um programa comprado pela agência era usado para monitorar e localizar pessoas que eram consideradas adversárias políticas do governo. Os desdobramento da ação da Polícia Federal atingem diretamente Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente. Foi um período caótico em todos os sentidos. 

Diante disso, só me resta dizer o seguinte: nossa, como eu gostaria que o Nelson e o Umberto estivessem errados. 

 

AFONSO POLA é sociólogo e professor.