Tempestades que atingiram São Paulo nos últimos dias provocaram falta de energia em diversas regiões do estado, e no Alto Tietê não foi diferente. Chuva forte e rajadas de ventos de mais de 100 km por hora deixaram um rastro de destruição e, lamentavelmente, oito mortes, segundo informações divulgadas recentemente pela Imprensa. Fora tudo isso, o blecaute nos trouxe, também, a reflexão real sobre o quanto nos tornamos reféns da energia elétrica. 

Sem eletricidade, o ser humano se vê perdido, não somente no escuro, literalmente, mas diante da sua dependência por aparelho celular, computador, televisão, carro elétrico, só para citar alguns exemplos. Em suma: somos movidos à energia. E, ainda existem aqueles que tenham dúvidas de que o ser humano está cada vez mais robotizado.  

Nos tornamos escravos da eletricidade: sem ela, não trabalhamos, não nos locomovemos, não nos alimentamos, não nos comunicamos, enfim, ficamos vendo a vida passar – o que, de todo modo, não seria tão ruim; afinal, teríamos uma oportunidade de refletirmos sobre ela. Só que que o ser humano não deseja parar para refletir sobre a sua vida, aliás, sobre quase nada.  

Somos cada vez mais engolidos pela ansiedade de ter de fazer, ter de trabalhar, ter de acumular coisas, ter de dar conta, e isso faz com que o tempo para se pensar na própria existência seja raro.  

Sem energia elétrica, as pessoas têm de suspender as atividades rotineiras e ficar inertes diante à impossibilidade de fazer absolutamente nada – e é justamente esse 'não poder fazer' que gera o desespero e a ansiedade, seja  para conectar à Internet, para não perder alimentos na geladeira, ou para cuidar do filho - já que ele não tem TV para ver, nem tablet para mexer.  

A falta de luz traz o caos à vida de todos nós, pois ilumina nossas dependências, nossas fugas, nossas fraquezas. 

Este caos todo gerado pela falta de energia nos leva, afinal, a pensar: o que resta para nós quando a luz se apaga? Pense nisso! 

 

*Dra. Luciana Inocêncio (luciana.inocencio@yahoo.com.br) é psicóloga e psicanalista; especialista em Transtornos Graves das Psicoses; em Psicologia Hospitalar e em Especialidades Médicas; e em Psicologia Clínica e em Teoria Psicanalítica.