Parte da nossa população é esquizofrênica, não tenho a menor dúvida disso. Basta ver a legião de evangélicos que decidiram dar apoio irrestrito ao estado de Israel no conflito hoje estabelecido com os palestinos. A religiosidade israelense é o judaísmo, que não reconhece Cristo como filho de Deus. Além disso, Israel é um país onde a prática do aborto é legal, a maconha é descriminalizada para o uso medicinal e a união homoafetiva, mesmo não sendo realizada no país, a justiça de Israel reconhece esses casamentos quando realizados em outros países, coisas que esses mesmos evangélicos tato demonizam aqui. 

Mas vamos ao tema do artigo. Privatização, a palavra mágica dos novos e arcaicos defensores do estado mínimo, que acham que o estado não deve intervir na economia. Aos que defendem isso, falta conhecimento histórico. Nenhuma nação no mundo se desenvolveu sem a participação efetiva do estado. Isso vai de Adam Smith, David Ricardo e também passa pelo Marx.

No Brasil, o debate sobre as privatizações não é recente. Na verdade, foi inaugurado ainda no governo do Fernando Collor, lá nos anos 80. Até porque, aqueles que têm saudades do regime militar e são a favor das privatizações, não sabem (ou fazem de conta que não sabem) que os governos militares foram estatizantes.

Mas a grande questão sobre as privatizações é fornecida pelo cotidiano, pelos inúmeros acontecimentos. Como disse no meu último artigo, a tendência em vários países desenvolvidos é a reestatização de empresas que foram privatizadas nos anos 70 e 80. 

Em 2020 no Amapá, a empresa de energia que fora privatizada deixou toda a população sem energia por 4 dias em função de um incêndio ocorrido em estação controlada por ela. Danos esses que foram reparados pela estatal Eletrobras. Precisou de uma empresa estatal, a Eletronorte, entrar no circuito para amenizar a situação e devolver energia ao Estado do Amapá. Ou seja, o capital privado arremata a empresa amapaense em leilão, ganha rios de dinheiro com a privatização, não faz a manutenção devida da rede e, no momento do apagão, é o Estado que tem que gerenciar o problema.

Ou seja. No Amapá, bastou uma tempestade e um raio para um incêndio destruir um transformador e revelar ao mundo o que significa a privatização do sistema de energia elétrica. E tem gente que defende a privatização da Eletrobras. 

Da mesma forma, conhecemos os resultados da privatização da Vale do Rio Doce. Capitalista quer lucro, não só o lucro, mas o maior lucro possível. Para eles é tudo uma questão de receita e despesa. 

O que significa menos custo, aparentemente é a vida humana.

 

Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor.