O Brasil é um país com uma grave tendência de copiar os comportamentos dos americanos. Assim como lá, aqui pessoas gostam de desfilar com carrões, muitas vezes para tentarem compensar o que de mais importante lhes faltam. E olha que não faltam estudos na área da psicologia a tratar desse tema. 

Uma outra aberração americana ganhou vozes aqui durante o governo passado. A ideia de que o cidadão tem o direito de se armar livremente, como se isso fosse um predicado humano. Não é. Nós só sobrevivemos enquanto espécie, pela nossa capacidade de cooperação. Não pela nossa capacidade de nos exterminarmos. 

Pois bem, na semana passada, um homem armado abriu fogo contra o público em um clube de boliche e logo depois em um bar, matando ao menos 18 e deixando outras 13 pessoas feridas em Lewiston, cidade com menos de 40 mil habitantes, no estado do Maine (EUA).

Só em 2023 os EUA registraram 603 mortes por ataque a tiros. Se mantiver o ritmo, país pode ter recorde de mortes por ataques a tiros em 12 meses desde 2014. E é importante lembrar que, no passado recente, os EUA tiveram na presidência um ser que, no campo das ideias, era muito parecido com o “nosso”. 

Até 27 de outubro, os EUA registrou 567 casos de ataques a tiros. Foram 603 mortes. Outras 2.348 pessoas ficaram feridas em casos desse tipo. Em 2022, os EUA somaram 645 casos de ataques a tiros. Desses, 642 pessoas morreram.

Pois bem, vamos mudar nosso olhar para o Brasil. Durante o governo Bolsonaro, diversas medidas foram implementadas para facilitar o acesso das pessoas às armas. Desde que chegou ao poder em 2019, Jair Bolsonaro (PL) editou mais de 40 decretos para facilitar o acesso da população civil às armas, escancarando um mercado que registra média de cerca de 1.300 armas compradas por brasileiros por dia.

Em 2018, um ano antes de Bolsonaro ser eleito, havia 350 mil armas registradas em nome de colecionadores, atiradores e caçadores (os chamados CACs), número que passou para 1 milhão em julho de 2022. Ou seja, triplicou. Foram as facilidades oferecidas por um governo que nunca teve compromisso com a vida. Vide como esse governo tratou da pandemia. 

No dia 24 de outubro, o corpo de Giovanna, de 17 anos, foi enterrado. Mais ou menos 200 pessoas prestaram as últimas homenagens à menina, e alunos, professores, familiares e amigos tentavam se consolar e conter as lágrimas com abraços uns nos outros.

Um jovem, pegou a arma “legal” do pai e a usou. Ceifou a vida de uma jovem menina. Tenho dificuldade de mensurar o grau de imbecilidade daqueles que acham que ter arma é um direito. Eu sempre luto pelo direito a vida, não pelo direito das pessoas se matarem. Triste país, triste mundo.

O sangue dessa e de outros jovens, escorre em suas mãos.

 

Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor.