Uma vez, Nelson Rodrigues, que além de jornalista exercia diversas outras atividades, afirmou que “toda unanimidade é burra”. Essa frase se tornou célebre e, volta e meia as pessoas recorrem a ela. Eu diria que qualquer generalização segue um caminho muito parecido da unanimidade. 

Começo meu artigo dessa forma para deixar claro, desde já, que meu intuito não é o de fazer uma generalização irresponsável. Mas nele, vou chamar a atenção para um processo que vem, gradativamente, corroendo a imagem de uma importante instituição. É um processo que vem de longe e a instituição em questão é a Polícia Militar.

Tem um vídeo que circula nas redes sociais exibindo policiais militares ainda em formação, entoando um hino para lá de absurdo. Segundo apuração da imprensa, o vídeo foi gravado na 5ª companhia da Escola Superior de Soldados da PM-SP.

A letra do hino diz o seguinte: "Para dispersar a multidão, eu vou jogar gás lacrimogênio. No vagabundo, eu vou jogar. E vai faltar oxigênio. E o vagabundo vai desmaiar".

O que esse fato traduz, é que parte dessa instituição, comandantes inclusos, são adeptos do emprego da violência de forma indiscriminada. E isso não é uma particularidade apenas da PM-SP. Não são raras as notícias dando conta de práticas violentas na maioria dos estados brasileiros.

E não é só no processo de formação desses policiais que percebemos isso. São inúmeros casos de ações das PMs que resultam em mortes com uma série de indícios que indicam a prática de execução. Temos como exemplos os massacres do Carandiru (SP) e dos Sem Terras no Norte do país. Temos as chacinas em Osasco (SP) e na Candelária no Rio, isso para citarmos só alguns casos.

O traço comum desses acontecimentos é a truculência e ilegalidades das ações. Além disso, comandantes e autoridades dos estados onde ocorreram essas ações, geralmente acabam tendo a postura de justificá-las, e assim acabam institucionalizando tais práticas. Por outro lado, parte da sociedade assume uma postura que busca dar legitimidade a essas ilegalidades.

Em relação ao caso do vídeo do início do artigo, a diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, disse que o caso é grave e indica práticas organizacionais enraizadas nessas corporações.

Para finalizar, tem um vídeo do “Portas dos fundos” chamado “Bala de Borracha” que, com muito humor, ilustra esse enraizamento. Vale a pena assistir.

 

Afonso Pola (afonsopola@uol.com.br) é sociólogo e professor.