Em toda a discussão sobre o feminicídio, qualquer postagem sobre isso gera uma série de comentários favoráveis, mas também de comentários que buscam desqualificar aos que denunciam esse crime hediondo.
Está na lei. A Lei nº 13.104/2015 torna o feminicídio um homicídio qualificado e o coloca na lista de crimes hediondos, com penas mais altas, de 12 a 30 anos. É considerado feminicídio quando o assassinato envolve violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher da vítima.
Pois bem, o Brasil convive com elevadas estatísticas de violências cotidianas praticadas contra mulheres. Isso resulta em um destaque perverso no cenário mundial. Nosso país está no 5º lugar entre países com maior taxa de homicídios de mulheres.
Dia após dia, um número significativo de mulheres, jovens e meninas são submetidas a alguma forma de violência no Brasil. Assédio, exploração sexual, estupro, tortura, violência psicológica, agressões por parceiros ou familiares, perseguição, feminicídio. São inúmeras e diversas as formas de violências praticadas contra meninas, jovens e mulheres. A violência contra as mulheres é recorrente e ocorre nos espaços públicos e privados, encontrando nos assassinatos a sua expressão mais grave. E tudo isso, sob um criminoso silêncio de tantos. Justamente daqueles que acusam de mimimi essas denúncias.
O feminicídio íntimo ocupa um horroroso destaque no total de morte violenta de mulheres. Em estudo divulgado não faz muito tempo, foi demonstrado que mais da metade das mortes violentas ocorre no contexto de violência doméstica e familiar.
É só recorrermos ao noticiário e veremos. "Homem mata companheira e morre após tentar tomar arma de policial no interior de SP" - "Brasileira de 32 anos é esfaqueada e morta pelo marido na Bolívia" - "Jovem é baleada pelo ex-namorado ao lado de delegacia no Paraná" - "Namorado tentou forjar suicídio de vereadora morta em Juazeiro do Norte (CE), diz polícia".
Não é mimimi, é coisa séria e precisa ser encarada como tal.
Afonso Pola é sociólogo e professor.