Em muitas mentes, ainda persiste o estereótipo construído no crônico complexo de vira-latas que o Brasil seria incapaz de produzir tecnologia de ponta, ficando refém da sabedoria e da inventividade de outros países. Até mesmo em novelas antigas mostravam-se os anjos da guarda que atuavam sobre o Brasil em repartições públicas antiquadas, com computadores quebrados. Mas, de forma silenciosa, foi quebrado este paradigma, e chegamos hoje a um momento que seria impensável há vinte anos.
Na véspera da eleição mais acirrada e polêmica desde a redemocratização do país em 1988, o eleitor brasileiro tem a oportunidade de usar um smartphone para comprovar seu voto em sua seção eleitoral, com um aplicativo que dispensa o título de eleitor em papel. Com um aplicativo, é possível não apenas comprovar sua aptidão ao voto em urnas confiáveis e fiéis, mas é possível garantir o seu trajeto ao local sem grandes percalços, com a ajuda de um mapa.
A consolidação do uso da biometria em mais de 78% do eleitorado nacional segundo levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reitera a vanguarda do Brasil na garantia da transparência e da participação ampla de sua população, em um longo processo que buscou a inclusão dos pobres, das mulheres e dos analfabetos, e que combate a fraude das contagens de voto nos ginásios.
O uso da tecnologia segura nas eleições brasileiras não é apenas um testamento da engenhosidade de nosso parque tecnológico e intelectual, mas também um tributo ao longo caminho que a democracia brasileira trilhou para se estabelecer. Intelectuais, estudantes, trabalhadores da indústria e do comércio, todos lançaram-se por décadas ao medo e à incógnita do amanhã para garantir o direito da população escolher seus representantes e governantes. Qualquer desrespeito a este processo demonstra, no presente e no futuro, o lado que representam.
Na véspera do primeiro turno das eleições, o apelo do TSE à população para a adesão ao e-Título não é um apelo à democracia apenas: é um convite a aceitar a modernidade tão desejada por nossos antecessores.