Identificar, avaliar e controlar riscos psicossociais no ambiente de trabalho são as principais exigências da atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que entrará em vigor em maio de 2026. Especialistas destacam as principais mudanças e a necessidade de adaptação das empresas para evitar multas e atuações. A vigência da nova norma estava prevista para maio de 2025, mas foi adiada pelo Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE).
O consultor empresarial Dori Boucault, que também é especialista em Direito do Consumidor e do Fornecedor, explica que as empresas terão mais tempo para se adaptar às mudanças sem risco de multas e autuações, com a vigência em maio do próximo ano. Segundo ele, a NR-1 foi atualizada para garantir maior proteção à saúde física e mental dos trabalhadores.
A atualização da norma obriga as empresas a implementarem o Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) e o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), que incluem a identificação, avaliação e controle dos riscos psicossociais.
“A norma veio para, num todo, fazer com que o colaborador receba o devido cuidado. O patrimônio mais importante da empresa é o colaborador”, ressaltou. Ele reforça que a norma vale para empresas de todos os portes, que precisam identificar e prevenir riscos psicossociais como assédios, sobrecarga emocional, pressão excessiva e exposição pública.
Entre os riscos que mais afetam a saúde mental no ambiente de trabalho, o consultor destaca diferentes formas de assédio, que podem partir não apenas de gestores e colegas, mas também de clientes e consumidores. Como exemplo, ele cita reclamações agressivas, pressão emocional sobre vendedores e atendentes, além de situações de assédio verbal, físico, por exposição — inclusive nas redes sociais — ou discriminação.
Para Dori, o treinamento contínuo é essencial. “As empresas precisam treinar seus colaboradores e gestores, explicando o que é assédio, como identificá-lo e como agir em situações abusivas”, orienta. Ele recomenda que psicólogos, médicos especialistas e consultores participem dos treinamentos, garantindo que as orientações sejam eficazes e próximas da realidade do dia a dia de cada empresa.
Segurança e saúde no trabalho
Patricia Lanzoni — também consultora empresarial — destaca que as empresas têm se preocupado cada vez mais com a saúde mental dos empregados. Ela explica que, com a mudança, a norma deixa claro que a saúde mental deve ser parte integrante da segurança e saúde no trabalho. “Isso representa um avanço importante para a proteção dos trabalhadores”, afirmou. A especialista também é fundadora da New Solution, é formada em Comunicação Social e possui MBA em Gestão Empresarial e em Gestão de Pessoas.
A consultora destaca a importância dos colaboradores para as empresas, afirmando que, por trás de cada meta e estratégia, estão pessoas — tanto na equipe quanto na liderança — e que nenhum resultado deve ser mais importante que o bem-estar delas. Para Patrícia, lembrar disso é fundamental para construir relações de trabalho mais humanas, diante de um ambiente corporativo desafiador com pressões governamentais, sociais e a complexidade da legislação trabalhista.
O papel da liderança, na avaliação da consultora, é essencial na prevenção de problemas. Segundo ela, os gestores devem estabelecer uma comunicação clara e aberta, capaz de gerar confiança mesmo nos momentos difíceis; investir continuamente no desenvolvimento da equipe; reconhecer conquistas, e promover práticas que ajudem a equilibrar a vida pessoal e profissional, como horários flexíveis e programas de bem-estar.
Patricia também chama atenção também para os gestores, que podem estar sujeitos à pressão e ao desgaste. “Ignorar o esgotamento dos líderes é um risco para a saúde da organização como um todo”, alerta a consultora. Ela recomenda que os líderes tenham redes de apoio, saibam delegar tarefas e pratiquem o autocuidado, com pausas, atividades fora do trabalho e tempo para a família.
Riscos psicossociais
Entre esses riscos psicossociais apontados pelos especialistas estão:
• Sobrecarga de trabalho, com excesso de tarefas, prazos apertados e horas extras;
• Falta de controle sobre o próprio trabalho, caracterizada por pouca autonomia e microgerenciamento;
• Violência e assédio, moral ou sexual, que podem ocorrer tanto dentro da empresa quanto nas relações de consumo, partindo de clientes e consumidores;
• Falta de reconhecimento e feedback insuficiente;
• Conflitos interpessoais com colegas ou chefia;
• Insegurança no emprego, como medo de demissão;
• Trabalho isolado, sem interação social.
Os sintomas que indicam riscos à saúde mental incluem ainda exaustão (burnout), ansiedade, irritabilidade, dificuldade de concentração, insônia, tristeza profunda, desmotivação, isolamento social e sintomas físicos sem causa aparente, como dores de cabeça.
Caso um funcionário perceba que sua saúde mental está em risco ou que a norma está sendo descumprida, Dori orienta que o primeiro passo é comunicar a chefia direta. Se o problema não for resolvido, ele recomenda acionar o departamento de Recursos Humanos, o setor de Segurança e Medicina do Trabalho, utilizar canais anônimos de denúncia, ou procurar o sindicato e o Ministério Público do Trabalho. Segundo o especialista, as empresas devem ter regras que assegurem denúncias sem medo de punição.
Galeria
Foto 1 - Patricia Lanzoni, consultora empresarial e fundadora da New Solution, é formada em Comunicação Social e possui MBA em Gestão Empresarial e em Gestão de Pessoas (Divulgação)
Foto 2 - Dori Boucault, consultor empresarial e especialista no Direito do Consumidor e Fornecedor (Divulgação)