Há um questionamento filosófico que somente o desespero ou uma janela de ônibus permite ocorrer: "o que é essencial, afinal?". Para uma pergunta tão vaga e humana, há infinitas interpretações. Para o dicionário, a definição; para o amante, o desejo; para o cientista, a pergunta. Mas para a vida, a resposta é simples: água.
O levantamento feito pelo Grupo MogiNews/DAT sobre a situação dos mananciais do Sistema Produtor Alto Tietê (SPAT) na virada da estação do inverno para a primavera é mais do que um retrato meteorológico, mas o resultado de uma longa equação que envolvem as mudanças climáticas, a ação e omissão das pessoas e o saldo que deixam às gerações futuras.
A falta d'água sempre remete às cenas da crise hídrica que vivemos na última década, que não apenas forçou a mudança de hábitos de consumo da população, mas fez com que novos debates surgissem sobre como a sociedade - empresas, governo e população - tratam seus recursos naturais, em um tempo de industrialização excessiva.
Um acompanhamento dos reservatórios nos últimos anos mostra que, na virada das estações, o nível dos reservatórios apresentou uma queda consistente: de 88,1% em 2019 para 41,57% no ano passado. São números que fazem qualquer um pensar nos rumos de nossa sociedade, mesmo com uma pandemia na linha do tempo, com o desaquecimento da economia e a redução no consumo da indústria.
Sem a comprovação de um "boom populacional" nos últimos anos, fica claro que o processo de mudanças climáticas, previsto há décadas por cientistas de todo o mundo, começa a sair da etapa das teorias e se aplica no dia a dia das pessoas. Lembremos das obras e investimentos que o poder público teve que realizar, no passado, para compensar a seca na represa da Guarapiranga, que colocou em xeque a maior cidade da América Latina.
É essencial que assumamos que o mundo está mudando, e é essencial que mudemos nossos costumes, já que não há interpretações alternativas para a realidade que começamos a viver.