Desde o início da pandemia, um novo bilionário surge a cada 26 horas. Os dez homens mais ricos do mundo dobraram suas fortunas, enquanto mais de 160 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza. Nesse meio tempo, estima-se que o número real de mortes por covid no mundo pode ter chegado a 15 milhões, diz a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Essa realidade é extremamente cruel pois, o custo é pago em vidas humanas. É o que ficou demonstrado no estudo - A Desigualdade Mata - que foi lançado às vésperas do encontro do Fórum Econômico Mundial 2022 em Davos, Suíça pela ONG Oxfam Internacional (Public Good or Private Wealth), uma confederação de 19 organizações e mais de 3 mil parceiros.

Ainda de acordo com o mesmo estudo, os 2153 bilionários do mundo tinham mais riqueza do que 4,6 mil milhões de pessoas. Diante de toda essa disparidade evidenciada por um mundo onde a concentração de riqueza exibe uma face perversa, no nosso país não é diferente. Somos hoje um dos países mais desigual do mundo. No Brasil, os 20 maiores bilionários têm mais riqueza do que 128 milhões de brasileiros (60% da população).

No início desse século, até a metade da segunda década (de 2002 a 2015), a desigualdade de renda no Brasil experimentou uma linha descendente, foi sendo reduzida como consequência de um processo de inclusão social. Isso é o que apontou um estudo inédito do Insper. Essa trajetória de queda foi interrompida e começou a mudar a partir de 2015.

Hoje, ao final do mandato do atual presidente, o Brasil retornou ao mapa da fome e, nos últimos anos, jogou mais de 23 milhões de brasileiros abaixo da linha da miséria. Cenas em que pessoas reviram lixo na tentativa de encontrar o que comer se espalharam por todo país. Imagens de bandejas com pele de frango e carcaças de frango e peixe sendo vendidas em promoção sintetizam bem o que estamos vivendo. É o que estamos revelando aos olhos do mundo. E tudo isso com a vergonhosa conivência dos chamados de "cidadãos e cidadãs de bem".

Afonso Pola é sociólogo e proferssor.