A doação de marmitas e cestas básicas é uma realidade brasileira. Sendo uma doação o correto é o doador omitir o bem que faz. Pelo menos essa é a orientação bíblica, de que não saiba a sua mão esquerda direita o que faz a sua direita, com a promessa de recompensa divina. Também diz a mesma bíblia que quem zomba do pobre zomba de quem o criou.

Algumas crenças religiosas pregam a caridade como meio de salvação. Seja qual for a motivação das doações, uma coisa é unânime, elas não devem ser instrumentos de humilhação daqueles que recebem, muito menos um troféu para aqueles que doam.

Um vídeo amplamente divulgado pela imprensa revelou um homem doando marmitas a uma senhora carente, indagando quem ela apoiaria nas eleições se o atual presidente ou Lula. Como a resposta não foi a desejada, o homem disse a ela que aquela seria a última marmita que receberia e que daquele momento em diante que ela pedisse ao Lula as próximas marmitas. O vídeo gerou grande repercussão em razão da condicionante da caridade. Ante a repercussão negativa, o homem veio a publico dizer que se arrependeu de postar o vídeo, mas não se desculpou com a mulher ofendida nem se retratou pelo ato praticado.

O que era para ser um ato de amor ao próximo se tornou uma humilhação pública. Doação não produz nenhum efeito quando feita com rancor, ódio, segregação e discriminação. O amor não tem partido nem candidato. Como definiu São Paulo em sua primeira carta aos Coríntios o amor é paciente, bondoso, não é invejoso, arrogante, soberbo e não busca seus próprios interesses, não se irrita, não guarda ressentimento, não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera e tudo suporta.

Doar sem amor não é doação. Que sirva de lição ao homem doador e a todos nós. Escola sem partido, igreja sem partido, entidades religiosas sem partido e ações humanitárias sem partido. Separar a política da caridade e a caridade da vaidade é essencial tanto para quem doa como para quem recebe.

Cedric Darwin é mestre em Direito e advogado.