Sabemos que violência e segurança são hoje temas de grande preocupação. A escalada da violência nas grandes Regiões Metropolitanas e nas cidades pequenas transmite, cada vez mais, uma enorme sensação de insegurança e medo, promovendo mudanças de hábitos e costumes.
Como Mogi das Cruzes é uma cidade média e pertencente a uma grande Região Metropolitana, a percepção sobre a violência não é diferente de outras cidades. Até porque, não são apenas os fatores locais que atuam na conformação dessa percepção. Mesmo quando a cidade não é o palco de determinados crimes, sua ocorrência e divulgação nos aproximam deles. Principalmente hoje quando notícias e imagens são desesperadamente compartilhadas pelas redes sociais.
A ausência de políticas públicas de segurança com a desejável consistência fez com que a escalada da violência se intensificasse nas últimas décadas. O Atlas da Violência 2021 apresenta dados assustadores. O Brasil tem taxa de homicídio 30 vezes maior do que a Europa. O número de pessoas assassinadas na última década no país supera meio milhão. Já são mais de 60 mil homicídios por ano. Esse quadro eleva a questão da violência como uma das principais preocupações dos brasileiros, o que favorece discursos que pregam ainda mais violência.
Na verdade, o agravamento da violência se dá justamente pela escolha da repressão como forma de se tentar resolver o problema. A violência está diretamente relacionada aos problemas sociais, principalmente o grau de desigualdade. A comparação dos índices de países ricos e pobres não deixa dúvida.
Ações articuladas envolvendo políticas públicas diferentes (educação, saúde, cultura, esporte, qualificação profissional etc), muito provavelmente produziriam resultados mais eficazes. A cultura da violência se estabelece paulatinamente através de atos e da afirmação do discurso de ódio como um valor. Facilitar o comércio e a obtenção do porte de armas é uma proposta profundamente temerária. É mais ou menos como apagar incêndio com gasolina.
Afonso Pola é sociólogo e professor.