Em um mundo globalizado, as relações econômicas entre os países avançaram em um ritmo extraordinário nas últimas décadas. A intensificação da relação de interdependência econômica entre as nações e entre as relações políticas e econômicas no cenário internacional são uma realidade incontestável.

Com o avanço da globalização, o planeta se tornou uma imensa via por onde circulam capitais e mercadorias, o que muito relativiza as fronteiras geográficas. Podemos citar como um exemplo o quanto se desenvolveu a relação comercial entre Brasil e China. A China é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009 e as relações comerciais entre os países têm se tornado cada vez mais intensas. O saldo comercial (US$ 20,166 bilhões) e as exportações brasileiras para a China (US$ 47,488 bilhões) chegaram a bater recorde em 2017.

A demanda chinesa tem crescido desde os anos 1990, em decorrência da elevação de renda da sua população, que implica o aumento do consumo de carnes, alimentos ricos em gorduras e processados. Em 2017 foi assinado um acordo entre Brasil e China permitindo a retomada de exportação de carne para o país asiático, que havia sido suspensa em 2012.

Mas nem tudo são flores nesses indicadores. Da mesma forma que o fluxo de mercadorias do Brasil para China é bem ascendente, o inverso também é verdadeiro. Quando se observa o tipo de mercadoria exportada para a China e a importada pelo Brasil, percebemos um risco para a estrutura produtiva brasileira e para o futuro de nossa balança comercial.

Dados do Ministério da Economia assinalam que mais de 99% das importações brasileiras da China são de produtos da indústria da transformação. O Brasil vende majoritariamente commodities de baixo valor agregado, enquanto o que importamos são produtos de maior valor agregado. A China é um mercado sustentado por uma população imensa (mais de 1,3 bilhões de pessoas) e essa relação pode, no médio e longo prazo, produzir efeitos indesejáveis em nossa economia.

Afonso Pola é sociólogo e professor.