Se algo funciona muito no atual governo é a boca do presidente da República. Todos os dias uma frase ou declaração são motivo para pautas jornalísticas e comentários de especialistas e populares. O presidente afirma que não é uma estratégia de comunicação, que ele é assim mesmo e fala tudo o que pensa. Pode até não ser planejado, mas que é uma estratégia política não há dúvida.
Assim como a caneta Bic azul que faz questão de ostentar em sua camisa e sempre que possível exibir ao interlocutor, sua metralhadora verbal lança uma cortina de fumaça na falta de resultado das ações ou omissões do governo. Uma das últimas declarações polêmicas foi a de que contaria ao presidente da OAB como o seu pai, desaparecido durante o regime militar, teria morrido. O presidente da República é desafeto do presidente da OAB por questões ideológicas.
Isso é perfeitamente compreensível, mas o que ele precisa entender é que não é mais o deputado do baixo clero que falava e ninguém ouvia. Agora ele é o presidente da República e cada palavra pesa. Dias após a declaração do presidente, a Petrobras denunciou um contrato de prestação de serviços que mantinha com o escritório de advocacia do presidente da OAB. A briga dos dois vem de longe. Em 2011, Bolsonaro disse que o pai de Santa Cruz tinha morrido bêbado e não como vítima do regime. Santa Cruz, presidindo a OAB do Rio de Janeiro, pediu a cassação de Bolsonaro, o que se repetiu quando homenageou o Coronel Ustra em votação do impedimento de Dilma. Felipe Santa Cruz foi filado ao PT por oito anos, candidato pelo partido e foi apoiado na eleição da OAB do Rio de Janeiro pelo ex-presidente da entidade e deputado federal pelo PT, Wahid Damous.
Isso explica o bate boca entre os dois presidentes que se colocam em lados opostos ideologicamente. O grande problema é que um representa o Estado brasileiro e o outro a Ordem dos Advogados do Brasil, por isso seria bom a leitura e aplicação de um provérbio de Salomão: "Até o insensato passará por sábio se ficar quieto."