Não vai ter golpe porque eles já estão acontecendo, faz tempo, na dinâmica política brasileira, em especial no Congresso Nacional. O ministro Luís Roberto Barroso denunciou a falta "do mínimo de legitimidade democrática" em nosso sistema.
Há um golpe nos princípios da impessoalidade e da moralidade quando o pedido de impeachment é aceito por retaliação do presidente réu Cunha contra o PT. Este partido, depois de muito vacilar, votou pela admissibilidade da representação contra Cunha no Conselho de Ética.
Mas os golpes são, sobretudo, na verdade: na Câmara dos Deputados, sucedem-se sessões extraordinárias de cinismo. Nasce um "zelo orçamentário" inédito, proclamado por parlamentares que só se preocupam com suas emendas individuais.
O repúdio à corrupção é unânime. Porém, muitos dos que clamam contra ela são investigados ou réus na Justiça por...corrupção. A justa grita pela moralidade pública tem vozes fortes entre os que não dizem um "ai" quanto aos malfeitos do ainda presidente da Câmara, a quem são totalmente submissos.
Fala-se, não sem razão, do "estelionato eleitoral" de Dilma. Ela, de fato, tentou fazer no seu primeiro ano de governo o contrário do que afirmara na campanha, com o ajuste "puro e duro". Só que as medidas de seu então ministro Joaquim Levy foram rejeitadas pelo PSDB por serem propostas por um governo ao qual se opunham.
O golpe na política vem também através do tradicional "varejo" de cargos na máquina pública, para garantir votos para uma ou outra posição. Os "fiéis da balança" sobre o impeachment de Dilma são os deputados que, declarando-se indecisos, expõem-se à ofensiva sedutora.
Muitos vendem a ideia enganosa de que mudando o governante o País mudará. Entretanto, como dizia Einstein, "loucura é querer resultados diferentes fazendo tudo exatamente igual". Urgente mesmo é mudar nosso modelo econômico e nosso sistema político. Em uma democracia substantiva, isso só se dará envolvendo Sua Excelência, o cidadão comum.