A presidente Dilma Rousseff se irritou mais uma nesta semana com a divulgação do conteúdo de delações premiadas de executivos da Andrade Gutierrez na Operação Lava Jato. As informações reiteram os indícios de que dinheiro desviado a partir de obras superfaturadas da Petrobras alimentou PT e PMDB nos últimos anos e bancou as campanhas eleitorais para a Presidência da República em 2010 e 2014.
A irritação foi tanta que Dilma determinou ao Ministério da Justiça a "apuração rigorosa" da responsabilidade pela "divulgação seletiva" das informações dessas delações como parte da "trama golpista". Para a presidente, a situação "passou de todos os limites".
E de fato passou: é uma avalanche de podridão atrás de outra. Embora sejam denúncias ainda a serem comprovadas, parecem não ter fim. Quanto mais a Justiça e a Polícia Federal investigam, mais complexa fica essa rede de corrupção. Passou de todos os limites para a população, que não aguenta mais tanta devassidão e tanta roubalheira.
O mais interessante é que a revolta dela não é sobre o conteúdo em si, mas sobre os meios como surgiu e se tornou público. Da mesma forma ocorreu no caso das interceptações telefônicas autorizadas pelo Judiciário, em que ela e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram flagrados numa conversa sobre a nomeação para o Ministério da Casa Civil, cujo propósito já está sendo até considerado no Supremo Tribunal Federal (STF) como indicativo de desvio de finalidade e obstrução da Justiça, algo que poderá, inclusive, ser considerado improbidade administrativa e crime.
Paralelamente, o processo de impeachment segue na comissão especial na Câmara dos Deputados. O relatório foi pela admissibilidade da denúncia e pelo prosseguimento do caso para votação e decisão em plenário no Congresso Nacional.
Em meio a isso fica um exercício de reflexão. Se o presidente fosse outro, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG), mas as crises institucional, política e econômica fossem exatamente as mesmas, como se comportariam o PT e seus correligionários? Considerariam tudo uma "trama golpista" em desfavor de um tucano?
Os artistas, os intelectuais, os movimentos sociais e as entidades de classe que se colocaram ao lado de Dilma também se manifestariam "a favor da democracia" e chamariam o processo de impedimento do mandato de um presidente do PSDB como "tentativa de golpe"? Pois é. O que importa de verdade para muita gente não é o que está acontecendo no País, mas quem está no poder.