Luiz Inácio Lula da Silva tem caras, modos e personas variáveis. Traveste-se de acordo com a conveniência. Transita entre a divindade e o desvalido, entre a vítima e o general da tropa.
Semeia guerra e ódio e encarna a versão paz e amor quando as circunstâncias o deixam sem saída.  Ruge como leão e rasteja como jararaca. Mas, por mais que tente, sempre que se veste de cordeiro o lobo escapa.
Depois de ser flagrado sem fantasia em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça decidiu que é hora de falar de flores. Uma carta sentimental na quinta-feira e um discurso contra o ódio na manifestação pró-Dilma na sexta-feira, em São Paulo, não deixam dúvidas quanto às intenções do ex.
Já que não era possível negar as gravações em que dispara toda sorte de xingamentos aos presidentes da Câmara e do Senado, ao procurador-geral da República e ao recém-empossado ministro da Justiça, e à Suprema Corte, Lula tentou, com a carta, baixar a bola junto aos ministros do STF, que darão a palavra final sobre seu futuro, seja ele ministro de Estado ou não.
Na missiva, peça em que assinatura não está necessariamente vinculada à autoria, Lula se assemelha a uma lady inglesa.
No conteúdo e na linguagem, em nada parecidos com o remetente, que abusa do calão censurado para menores, na maioria das vezes sujeitos a transcrições que param na primeira letra da palavra. No palanque, a história é outra. Lula prega a paz cuspindo ódio.
Em quase meia hora de discurso para uma plateia absolutamente hipnotizada, Lula esforçou-se para cunhar a imagem de pacificador.
Usou e abusou de frases de efeito e da palavra democracia. A ela conferiu variegados significados, menos o real, já que deu maior valor às pessoas que ali estavam do que às protestaram contra ele, Dilma e o PT.
Ministro ou não, Lula está enroscado em nada menos do que seis inquéritos no âmbito do Ministério Público Federal e um no Distrito Federal, fora o do MP de São Paulo, despachado para Curitiba pela juíza paulista.
Por mais que tente remodelar, não há pele de cordeiro capaz de encobri-lo.