Sexta-feira, meio-dia. Animado por aguerridos defensores, rapidamente arregimentados pelos "movimentos sociais", o ex-presidente Lula termina o seu depoimento no anexo da Polícia Federal do aeroporto de Congonhas e, em vez de voltar para casa, segue para a sede do PT. Convoca a Imprensa para, mais tarde, disparar um discurso inflamado contra a Justiça, personificada no juiz Sérgio Moro, a mídia e as forças conservadoras que querem acabar com tudo que ele - e só ele - fez para o Brasil.
Sexta-feira, quase seis da tarde. O bater de panelas espontâneo, surgido do nada, anuncia que a presidente Dilma Rousseff estava falando na televisão. E pouco importava o que ela dizia. Ninguém queria saber. Depois de tanto mentir, em especial na campanha pela reeleição, quando prometeu fazer o diabo, Dilma não vale um tostão furado.
Lula fungou, esbravejou e quase chorou por perto de meia-hora. Tudo de acordo com o figurino. Nada explicou, até porque não era esse o objetivo dele. Esbanjou do direito de dizer asneiras, fez piada com coisas sérias. E não respondeu a uma só pergunta. Dilma falou por mais de dez minutos. Tal como Lula, cercou-se de apoiadores para aplaudir seu monólogo. E não respondeu a uma só pergunta.
Ambos traíram a confiança que lhes foi depositada. Mentiram, enganaram. Aos fatos, nenhum dos dois dão ouvidos. Nada de novo. Lula sempre foi, é e será assim mesmo. Age só de acordo com sua conveniência pessoal. Distribui perdão e culpa ao valete que o serve no momento. Usa, abusa e descarta.
Sexta-feira, oito e meia da noite. Sem a baixaria da guerra de torcidas organizadas que durante o dia encenaram mais um espetáculo de intolerância de uns e burrice de muitos, aplausos e buzinas se fizeram ouvir em diversas capitais em apoio à Lava Jato.
Prova inequívoca de que não adianta tergiversar. A Lava Jato chegou à Lava Lula, Lava Dilma, Lava PT, Lava Aliados. E, ainda que as pessoas que insistem em não se enquadrar entre as comuns tentem, não há caminho de volta que impeça o País de lavar a sua alma.