Durante a reflexão quaresmal, somos provados, muitas vezes, não no pouco, mas no muito e de forma significativa. Essa provação vem sempre acompanhada de dor e de tristeza, mas tem o poder de oferecer oportunidade de aprimoramento para a nossa alma, tal qual esmeril. E é diante das dificuldades e de situações inusitadas que somos testados na nossa capacidade de perdoar o próximo, como gostaríamos de ser perdoados.
Não se trata, neste caso, de ser fraco ou bobo. Aceitar um pedido de desculpas significa reconhecer a grandeza da alma daquele que se arrependeu pelo que nos fez ou pelo o que falou - ou, ainda, pelo o que não fez. Afinal, os ensinamentos bíblicos acerca da oração do sermão do monte (Pai-Nosso) dizem que "se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o Pai celeste vos perdoará".
Pensando melhor, toda forma de julgamento é pecaminosa, razão pela qual a ira deve ser colocada aos pés de Deus para que ele possa controlá-la de forma perfeita. Desta maneira, devemos nos lembrar que as ações de pessoas iradas não podem ditar nossas reações, pois nosso referencial deve vir da sabedoria divina. Ação e reação nem sempre são edificantes.
Esse período quaresmal de introspecção, período de 40 dias que antecedem a festa ápice do cristianismo, a ressurreição de Jesus Cristo, ou seja, a Páscoa, nos remete à fuga do Egito do povo de Israel e, portanto, à liberdade. Perdoar é, sem dúvida, um ato de liberdade. Perdoar nos libera do estado depressivo - "deprimido", que significa, literalmente, "pressionado para baixo", enfim, sem liberdade.
Perdoar é um ato cristão que temos de exercitar com mais frequência. Sentimentos vêm e vão, mas o aprendizado da vida é que leva você aonde quer ir. Lembrando que não devemos enfrentar ocasiões com fogo e álcool nas mãos. Potencializar uma situação pode torná-la mais degradante. Atenuar, sim, erigi. Como bem ouvi certa vez, "não importa aquele que vai jogar a primeira pedra. Importante mesmo é quem vai pegar a pedra e começar a construir algo".