Desde o debate sobre a obrigatoriedade do diploma, em 2009, o jornalismo não era discutido mundialmente como nos últimos dias. O motivo é uma entrevista realizada pelo ator norte-americano Sean Penn com o homem até então mais procurado do mundo, o narcotraficante mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán, capturado no último dia 8, para a edição americana da revista Rolling Stone. A importância da matéria, os motivos de ter ocorrido e a presença de um ator como entrevistador, no lugar de um jornalista, deixou muita gente inquieta.
Senadores e advogados norte-americanos têm criticado a revista, que poderia ter colaborado com a prisão do criminoso. No entanto, a direção da Rolling Stone responde que fez um "acordo" com Guzmán, para poder entrevistá-lo sem denunciá-lo à polícia. Neste cenário está a figura de Sean Penn, um ator famoso mundialmente e que, com este "furo jornalístico", entra para a história como o entrevistador de um dos maiores traficantes de todos os tempos. Com toda certeza, em breve, a conversa entre os dois se tornará um filme ou um seriado, como o estrelado pelo ator brasileiro Wagner Moura, sobre a vida de Pablo Escobar.
O que incomodou os jornalistas, militares e advogados foi o fato de a revista dar de ombros às autoridades, à profissão jornalística e aos direitos e deveres do cidadão. A relação jornalista-traficante, no entanto, sempre foi complicada. Na América do Sul, a maioria das mortes dos profissionais da Imprensa ocorre porque eles investigam ou publicam informações sobre o tráfico. Apenas no Brasil é diferente. Aqui se mata mais jornalistas que investigam crimes cometidos por políticos, ou seja, aqueles que trabalham em matérias sobre a corrupção no País.
O fato é que o jornalismo sempre se pautou em colaborar com a sociedade, e fazer um acordo para entrevistar um narcotraficante procurado parece uma omissão com a Justiça. Para o leitor, realmente é interessante ouvir as histórias de El Chapo, como é atraente ao telespectador assistir a vida de Pablo Escobar na televisão. Por mais que o entrevistador seja Sean Penn, a equipe da Rolling Stone tem jornalistas, que de uma forma ou outra participaram do trabalho.
O conteúdo da reportagem não é diferente do de outros criminosos. El Chapo diz que entrou no tráfico por necessidade, que este é um mercado que movimenta bilhões e fala sobre sua riqueza e poder. No final das contas, temos que torcer para que essa figura, com tanta publicidade e mitificada pela Imprensa, não seja vista como herói.