Eu odeio o frio. Sei que é forte o uso de derivados da palavra odiar, mas, infelizmente, não consigo encontrar outra maneira de expressar o meu repúdio a essa sensação.
Imagino como seria se fosse uma ursa: passaria todo esse período hibernando, mas logo percebo que seria uma perda de tempo enorme da minha vida, então peço para ganhar na loteria e sumir para o Nordeste nessa época do ano. Como isso ainda não aconteceu, o jeito é encarar a friaca toda, acordando cedo e tremendo como vara verde.
O trem estilo Potoque é um dos piores para viajar no inverno. O primeiro conflito é:  seguro na barra de ferro ou fico como "João Bobo" tentando manter o equilíbrio? Se escolho a última opção corro o risco de apanhar, principalmente se pisar no pé de alguém. 
As barras de ferro são congelantes e se decidir por segurá-las, primeiro vou com a pontinha dos dedos, um a um, até criar coragem para fechar a mão toda contra a barra. É muito ruim! A luta aqui é para não soltá-la porque se isso acontece e você não consegue colocar a mão de volta no mesmo lugar, volta toda a tortura.
Outra coisa ruim do Potoque é quando você para embaixo de um maldito tubo de ar que fica no teto. No verão, ele nunca funciona e derrete todo mundo. Agora, vem no tempo congelante para sentir toda sua potência! Podem perceber que embaixo dele é o único espaço disponível porque só os fortes aguentam!
Esperar o trem chegar em Guaianases é outra oportunidade de se sentir como forminhas de gelo num freezer. A estação é toda aberta e a plataforma é literalmente a porta dessa geladeira.
Como não sou pessimista, ainda tento enxergar o lado bom das coisas e sem dúvida, nessa friaca, a melhor coisa dos trens é o calor humano. Confesso que dá vontade de chorar quando está chegando perto de onde vou descer porque sei que assim que as portas se abrirem, todo o quentinho vai embora e o que me restará serão os milhares de espirros que soltarei.
Haja antigripal!