A meia-sola ministerial desenhada pelo ex-presidente Lula e executada pela presidente Dilma Rousseff teve um objetivo claro: reduzir as chances de o processo de impeachment contra ela avançar no Congresso Nacional. Isso posto, a questão estaria resolvida? Claro que não. Esta semana, a Arko Advice concluirá uma pesquisa em que ouviu cem deputados federais sobre o assunto.
São números que trazem uma certeza: o tema continua preocupante para o Planalto. Em especial pelo fato de um dos novos interlocutores do governo no PMDB, o deputado Leonardo Picciani, encontrar-se enfraquecido, depois de aparente vitória como gestor da reforma ministerial na bancada de seu partido.
Vinte e quatro horas depois da posse dos novos ministros, o bloco que Picciani liderava rachou em três: 22 deputados do PMDB apoiam o impeachment; 82 parlamentares dos demais partidos formaram novo bloco; restam cerca de 57 que acatam a liderança de Picciani.
Assim, o day after da meia-sola ministerial é preocupante na medida em que a unidade esperada não só não foi atingida como corre o risco de ficar pelo meio do caminho. O racha na liderança de Picciani revela que o governo terá de negociar com microlegendas e com as lideranças tradicionais do PMDB para recompor a sua base de apoio.
A pulverização partidária é enorme; a pressão das ruas e da mídia, permanente; e a deterioração do governo, inquietante. Lula tocava um barco com uma festa a bordo; Dilma pedala uma bicicleta de segunda mão. É uma vida dura. 
Diante disso, é claro que o impeachment continuará em pauta, já que mais de 280 deputados apoiam a tese e devem dar respaldo para que o processo seja deflagrado na Câmara tão logo o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB), se pronuncie.
O governo continua com condições de impedir a abertura oficial do impeachment, mas ainda está com sua governabilidade seriamente comprometida. Fica evidente que o arranjo ministerial não deu ao Palácio a maioria operacional que ele buscava e da qual precisa.