Gosto de imaginar que dentro de nós existem várias divisões, como se fôssemos um armário gigante. As minhas gavetas são divididas em sentimentos, situações profissionais, perrengues pessoais, hora do ócio e tantas quantas eu precisar.
O mais legal é que esse armário gigante é bem flexível. As gavetas aumentam ou diminuem conforme a necessidade. Isso me ajuda a não confundir alhos com bugalhos dentro da cabeça. É meio que fechar a gaveta na hora certa.
Por exemplo, se o dia não foi tão bom no trabalho, com as pressões naturais pertinentes à área que atuo ou cansativo mesmo, com funções diversas, enfim, quando passo a porta do prédio para a rua, encerro essa gaveta. Tranco e guardo a chave e só vou abri-la no dia seguinte.
O mesmo acontece quando tenho algo pessoal a resolver. Enquanto estou com essa parte aberta, tiro, coloco, movimento as tralhas que precisar, mas somente na hora em que elas devem ser colhidas ou exterminadas.
Tem a gavetinha do sono também. Por sorte, sempre está a postos na hora em que preciso. Posso estar com o maior problema do mundo em alguma das outras partes do meu armário, mas quando chega a hora de dormir, pronto, é só abri-la e caio profundamente no sono mais intenso do mundo!
Mesmo depois de uma situação tensa, ele nunca falha. Lembro-me quando minha mãe faleceu, que, para mim, foi uma das situações mais difíceis emocionalmente. Voltei para casa de madrugada quando o corpo já estava no velório e dormi profundamente, por duas horas. Depois, no término de tudo, dormi por 12 horas seguidas.
Isso foi muito importante para os dias que seguiram essa breve separação. É claro que tem momentos em que isso não funciona tão bem, mas na grande maioria das vezes consigo ir me conhecendo, tentando minha evolução, usando dessa artimanha, com gavetas, evitando que assuntos não afins se cruzem e façam de um pingo uma tromba d'água avassaladora.
O importante é encontrarmos sempre um meio de nos acharmos nesse emaranhado de emoções chamada Vida.