Há quem coloque a culpa na suposta juventude da nossa democracia, essa "plantinha tenra" como a chamam os que não fazem a menor cerimônia para pisá-la.
Mas ela já renasceu adulta, depois do vinteno da ditadura militar, tanto que o primeiro presidente escolhido em eleição direta foi obrigado a renunciar quando o Congresso aceitou abrir um processo de impeachment contra ele, atendendo a uma representação da sociedade civil, assinada pela OAB e a ABI.
Os tempos mudaram: a ABI hoje cede a sua casa para manifestações partidárias de quem está no poder, e o presidente da OAB se transformou em comensal do poder em jantares palacianos. Os que protestam, que ontem representavam a consciência cívica da Nação, hoje são os golpistas fascistas que não se conformam com o resultado das urnas. A democracia retrocedeu ou retrocederam os "democratas"?
"É lógico que ela pode errar, como eu errei e como qualquer um erra enquanto mãe. Nem sempre a gente faz as coisas que são 100% aceitas pelos filhos. Mas quando ela errar, ela é nossa mãe e temos de ajudá-la a consertar".
Nem nos momentos mais caricaturais do populismo explícito que assola o subcontinente desde sempre vai ser fácil achar uma frase tão estupidificante. Lula disse isso a uma plateia de "margaridas", trabalhadoras rurais recrutadas com o patrocínio estatal da Caixa, do BNDES e da Itaipu Binacional, que investiram R$ 855 mil no convescote "espontâneo" no estádio Mané Garrincha, elefante branco herdado da Copa de 2004.
Dilma também esteve lá, e o governo quis, com esse ato, marcar a sua presença na batalha política que se trava nos espaços públicos. Não importa se os métodos usados, como a manipulação grotesca das palavras e a instrumentalização descarada de um "movimento social", signifiquem uma regressão à primeira infância da demagogia populista.
Quando a democracia deixa de ser um fim e passa a ser um meio de agarrar-se ao poder para desfrutá-lo sem medidas e sem limites, estamos diante de uma farsa. Uma perigosa farsa.