Com o aperto das contas, o governo decidiu que não vai pagar em agosto o adiantamento do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS. A medida, ainda não anunciada oficialmente, veio a público às vésperas das manifestações contra Dilma Rousseff, previstas para este domingo em centenas de cidades do Brasil e no exterior.
A decisão foi tomada sob atritos entre os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e da Previdência Social, Carlos Gabas, que divergiam sobre o tema. Levy não quis assinar o pagamento. Com resultados fiscais ruins nos últimos meses, o ministro da Fazenda defendeu que não havia recursos disponíveis no momento para os repasses.
Apesar de não ser obrigatório, o adiantamento de 50% do valor do 13º tem sido feito pelo governo desde 2006,. Na avaliação de alguns integrantes do governo, a decisão não foi em boa hora, já que vem dois dias antes dos protestos contrários ao governo Dilma que devem tomar o País no domingo.
Gabas se reuniu com representantes de entidades de aposentados e pensionistas. Segundo o Sindicato Nacional dos Aposentados, nenhuma resposta foi dada e nenhum representante do ministério atendeu ligações ontem. "Acho que eles não queriam divulgar essa informação hoje", disse João Inocentini, presidente do sindicato.
Ele ressaltou que os aposentados costumam tomar crédito ou fazer compras já contando com o adiantamento. "Vai ser um caos", afirmou. Segundo ele, o sindicato tem audiência agendada para segunda-feira com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. No encontro, será feita uma consulta sobre possíveis ações judiciais para garantir o pagamento.
Na opinião do advogado da Associação Brasileira de Apoio aos Aposentados, Pensionistas e Servidores Públicos (ASBP), Evaldo Oliveira, o aumento de 30% para 35% no limite do crédito consignado feito em julho pelo governo foi uma forma de preparar o terreno para que o adiantamento do 13º não fosse feito. "Foi preparado não para resguardar o bolso da categoria, mas sim para proteger o setor bancário quanto à inadimplência", avaliou. "Para que os aposentados e pensionistas venham utilizar essa margem para saldar dívidas contraídas junto às instituições de crédito."