Aos 90 anos, comemorados na última sexta-feira (25), o maestro Antônio Freire Mármora, carinhosamente conhecido como Maestro Niquinho, esbanja saúde, dedicação à carreira musical, iniciada ainda na infância em Mogi das Cruzes, e coleciona muitas histórias. Com a humildade de um aprendiz, na música desde os cinco anos, ele não tem medo de afirmar que apesar do talento e grande experiência, ainda é um estudante e eterno admirador da música. 

Nascido em 25 de agosto de 1933, é um mogiano orgulhoso, descendente de italianos. Ele festejou mais um ano de vida há poucos dias do aniversário de Mogi, celebrado no dia 1 de setembro, quando a cidade completa 463 anos. Apesar dos 322 anos que separam a fundação da “Villa de Sant'Ana de Mogi Mirim” - primeiro nome dado ao município - do nascimento de Antônio Freire Mármora, sua vida está ligada à história cultural da principal cidade do Alto Tietê. 

Niquinho representa a terceira geração da família Mármora, que começou sua história na cidade em 1894, com a chegada de seu avô italiano, Antônio Mármora, à Mogi. O apreço pela música vem de berço, e dos 463 anos da cidade, os Mármora contribuíram musicalmente com 283 anos da história mogiana. Se depender do maestro Niquinho, serão mais de três séculos com facilidade.

Primeiros anos 

Maestro Niquinho não sabe ao certo o porquê seu avô escolheu vir para Mogi das Cruzes. Da Itália, o patriarca da família trouxe a admiração pela arte, pelo catolicismo e noções de música. Com isso, Mogi ganhou a Corporação Musical Guarany, que deu origem à Banda Guarany. Antônio Mármora, ainda, contribuiu com a Festa do Divino Espírito Santo, quando foi nomeado festeiro em 1939, e promoveu audições musicais para o evento. 

Com toda a bagagem musical familiar, Niquinho em sua simplicidade, compartilha que uma de suas primeiras e mais antigas memórias musicais são as marchinhas de carnaval. Ele também ressalta a presença do repertório do “Rei da voz”, Francisco Alves, em sua infância. O maestro aprendeu piano aos 5 anos com o pai, o maestro Antônio Mármora Filho, e logo foi estudar no Conservatório Musical Carlos Gomes, que seu pai havia fundado em Mogi.  Segundo o maestro, seu pai contava a ele que aos 6 anos compôs sua primeira música, mostrando seu talento.

O patriarca da segunda geração da família Mármora foi o fundador do Coral 1° de Setembro, importante grupo musical da região, que tinha Niquinho como pianista e, anos mais tarde, também foi regido por ele. 

Caminho próprio

Aos 10 anos, a criança prodígio já tocava órgão em igrejas, e seu avô viveu para vê-lo ser aplaudido pelo público ao se apresentar. Com 16 anos, iniciou sua trajetória em orquestras, e com o apoio e incentivo do pai, se inscreveu e ingressou no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, se formando em piano. Especializado em canto orfeônico pelo Instituto Musical de São Paulo, Niquinho seguiu para o magistério e construiu uma carreira lecionando música em escolas públicas. Foi um dos fundadores da Escola Industrial (atual Escola Técnica - Etec), em 1957, e também lecionou na Escola Estadual Washington Luiz, onde permaneceu até a sua aposentadoria, em 1987. 

No Washington Luiz, o maestro foi um dos responsáveis pelo sucesso da fanfarra escolar, produzindo melodias complexas que deixavam as apresentações semelhantes à de bandas, utilizando instrumentos de sopro e percussão. Toda a dedicação do maestro e de outros professores na fanfarra resultou em apresentações fora da cidade, prêmios e até uma apresentação na inauguração do estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Estádio do Morumbi, casa do São Paulo Futebol Clube. 

Legado vivo e atualizado

Com 90 anos muito bem vividos, Niquinho se mantém ativo dando aulas de música em sua casa para alguns alunos e escrevendo bastante, como fez questão de pontuar. Todo terceiro domingo do mês, faz apresentações de piano no Mogi Shopping, em Mogi das Cruzes, das 16 às 18 horas, com um repertório variado. O maestro define a música como a responsável por manter sua saúde física e mental: “Talvez a minha saúde eu deva muito à minha arte, e agradeço muito a Deus, pois eu estou sempre em atividade”. 

Em 1960, Niquinho se casou com Maria Edna, que morreu em 2019, e teve dois filhos: Mário Antônio e Cláudia Helena. Os Mármora já estão na quinta geração da família, formada pelos netos do maestro: Mariana, João Paulo e Sofia.