Antes mesmo que comecem a me ofender em pensamentos ou verbalmente, atacando os meus pais ou linhagem parental – o que seria muito injusto, já que eles não se interessariam neste estudo, aliás, muitos morreram analfabetos sem a oportunidade de ler e entender qualquer coisa, quero compartilhar uma parte da pesquisa que estou realizando com o título: Homem das Favelas.  

Embora separados por milênios e contextos históricos radicalmente distintos, a moradia do homem das cavernas e do Homem das Favelas, podem ser comparadas sob a perspectiva da luta pela sobrevivência e adaptação ao ambiente hostil. Tanto as cavernas quanto as favelas se localizam fora do “centro” — seja literal ou simbólico. Enquanto os homens das cavernas usavam pedras e peles para sobreviver, os moradores das favelas constroem suas casas com restos de madeiras, tijolos, eletricidade improvisada e encanamento clandestino. Ambos realizam um comportamento primitivo ou animalesco, agindo de forma instintiva e sem controle da razão.  

Ainda sobre a falta da razão, as moradias precárias no século XXI, comparáveis às do início da humanidade, mostra que o avanço técnico não é acompanhado, necessariamente, de justiça social, mas de dominação e sobrevivência, onde a lei do mais forte e esperto dominam esses espaços, considerando esperto aqui, grupos de poder que enganam o seu povo.  

Parece que o homem moderno perdeu a capacidade dos seus ancestrais com a regressão do cuidado do espaço social, desde a origem das favelas no Brasil. O Homem das Favelas, se equipara com o homem pré-histórico em uma ridícula forma de sobreviver, em pleno mundo contemporâneo. A dignidade humana, como princípio fundamental, está presente na Constituição Federal Brasileira, onde se manifesta na garantia de condições mínimas de sobrevivência, na proteção contra tratamentos degradantes e discriminatórios, e no respeito à autonomia e liberdade de cada pessoa. Ideia muito bonitinha no papel. 

Marcelo Barbosa é jornalista, pedagogo e psicanalista. Autor da trilogia “Favela no divã” e “A vida de cão do Requis”.