Há apenas sessenta anos, a mulher ficou dona da sua fecundidade, graças ao surgimento da pílula anticoncepcional. O homem é sempre linear em sua função de reprodutor; a mulher é em tudo cíclica ao manter o ritmo da sua fertilidade. Seu destino biológico e social, a perpetuação da espécie, foi alterado pela cultura e pela ciência.
Ela que consagrava toda a sua energia à sua função de maternidade e de criação, hoje, encontrou arestas desgastantes de adaptação à sua natureza a fim de provar a sua igualdade. Nunca haverá igualdade, mas, sim, semelhança. A supremacia do cérebro humano está na sua capacidade dialética - o hemisfério esquerdo é reservado ao controle da linguagem e o direito ao sentido do espaço.
A biologia demonstra que no cérebro da mulher essa divisão não é tão rigorosa, pois cada hemisfério é capaz de cumprir ambas as tarefas, evidenciando, entre os sexos, uma diferença, e não uma superioridade. A psicologia revela que a mulher leva vantagem no que se refere à linguagem e formulação, mas desvantagem na percepção do espaço. Nas indústrias mecânicas elas ocupam setores de menos especialização; mas, na indústria química, como na França, a mão de obra feminina é mais qualificada. Simone de Beauvoir, feminista e escritora francesa, publicou que a mulher não nasce mulher, ela é feita mulher.
Biológica e culturalmente, graças a Deus, ela continua sendo sempre mulher. Lembro-me de um colega anestesista que quando a mãe ansiosa perguntava, ao nascer a criança, se era menino ou menina, ele, irônico, respondia: "Menino... por enquanto!" O movimento feminista deflagrado há quase 60 anos, na busca da igualdade escondia, numa odiosa burca de moralismo vitoriano, o corpo da mulher, evitando de ser vista apenas como um objeto sexual. Hoje, o risco de perder novamente a dignidade e o respeito alcançado à duras penas, está naquelas que procuram mostrar demais a diferença escondida.
Mauro Jordão é médico.