Difícil não estabelecer uma relação comparativa neste momento entre o comportamento e as influências exercidas pelos presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e do Brasil, Jair Bolsonaro. Ambos países atravessam o estágio mais agudo do enfrentamento do coronavírus, fase em que o número de pessoas infectadas pela doença e o de registro de mortes não param de subir. As duas nações também vivem situação política semelhante, cujo panorama de aprovação de seus líderes vai naufragando a cada dia.
Nos Estados Unidos, o quadro ficou ainda mais conturbado após a morte de George Floyd, na semana passada, após uma ação violenta da polícia de Minneapolis, no Estado de Minnesota. Em meio aos crescentes protestos pelo assassinato por asfixia de um negro, Trump ameaçou acionar os militares para conter as manifestações, mas o resultado foi exatamente o inverso. A promessa só serviu para aumentar a revolta da população, além de atrair o posicionamento de celebridades ao movimento, que lhe garantiu projeções internacionais.
No Brasil, cada vez que Bolsonaro vai às ruas sem máscara e quebra as regras de distanciamento social, sob o frágil argumento de prestigiar a defesa da democracia embandeirada por seus simpatizantes, engrossam as fileiras de opositores ao governo. Com a mesma linha de raciocínio de Trump, Bolsonaro ameaça usar a força policial para conter os ânimos. Mesma regra, mesmo resultado: as manifestações por todo o país estão aumentando em ritmo idêntico ao da queda da popularidade do presidente. No final de semana passado, houve confronto entre as alas bolsonaristas e antagonistas no Rio e em São Paulo. Na terça-feira, foi a vez de Curitiba registrar atritos entre os grupos.
Os dois presidentes também foram infelizes na promoção da cloroquina como antídoto para o coronavírus. Sem comprovação médica e rechaçada pelas autoridades, o remédio deixou um gosto amargo no currículo de Trump e Bolsonaro. Com tamanhas trapalhadas e curta habilidade no trato das questões de Saúde pelos dois mandatários, nada a estranhar pelo fato de EUA e Brasil disputarem a posição de epicentro da Covid-19.