Muito mais complexo do que o confinamento, cujo êxito se dá a partir de um decreto de quarentena, como ocorreu em São Paulo, o processo inverso - o desconfinamento - passa por etapas distintas que incluem uma flexibilização sem regras e prazos definidos. Como elemento complicador, não se trata apenas de uma medida determinada por meio de um documento, que será obedecido a partir de sua decretação. Depende fundamentalmente do comportamento das pessoas. Nesse ponto, não há a menor perspectiva de uma volta à normalidade, com data estipulada, após o encerramento da quarentena provocada pela pandemia do coronavírus.
Há estudos otimistas que apontam o retorno gradual das atividades a partir de junho deste ano, mas que pode se estender até 2022, para ser classificado como um processo completo. Outros especialistas avaliam que, em termos mundiais, dependendo de uma possível segunda ou terceira ondas de propagação do vírus e da descoberta de uma vacina eficaz para combatê-lo, o conceito explícito de normalidade só será atingido em meia década. Há, porém, um ponto que todos concordam: independentemente do tempo que o processo levará, o mundo jamais será o mesmo. Algumas pessoas mudarão radicalmente o formato das relações pessoais e viverão determinados traumas na retomada da convivência social. Os mais idosos tendem a manter uma certa reclusão, mesmo que imunes à doença e livres dos riscos de infecção.
O setor da Saúde viverá um novo establishment, elevado a um patamar de importância dentro dos governos muito superior ao atual e passará a ser encarado com maior respeito e seriedade. Redes hospitalares terão investimentos mais constantes e enriquecidos, enquanto que pacientes devem regularizar o acompanhamento clínico, com visitas frequentes aos médicos e o cumprimento rigoroso do calendário de vacinas.
Entretanto, a área que mais deve passar por transformação é a econômica. Todo o modelo praticado até o início deste ano, em âmbito mundial, está superado. A reconstrução do mundo e as formas de comercialização terão de ser reinventadas. Isso significa desconfinar moeda, produto, mercado e consumidor.