O avanço da epidemia de coronavírus no Brasil evidencia o quanto a nação e, mais precisamente as autoridades responsáveis pelo comando do país, estão despreparadas para enfrentar a situação. Nesse balaio de gatos em que se transformou o episódio, as contradições começam pelo discurso do próprio presidente da República. No início, Jair Bolsonaro (sem partido) disse com desdém que o quadro mundial era mais uma "fantasia" criada pela imprensa, seu alvo favorito nos embates desde que iniciou o mandato, em 2019.
Depois, ao saber que o secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, foi diagnosticado positivo com a doença, e que ele próprio estava sob suspeita de infecção, apareceu em sua live semanal usando máscara de proteção para anunciar a antecipação do pagamento da primeira parcela do 13º salário aos aposentados, operação que vai movimentar cerca de R$ 23 bilhões dos cofres públicos para a economia nacional. Além de mostrar a sua faceta mais volúvel, o presidente aproveita a deixa para injetar dinheiro no mercado e camuflar a tendência de queda nos negócios.
Em São Paulo, o médico Fábio Jatene, titular de cirurgia torácica do Instituto do Coração (Incor), divulgou um áudio em tom mais alarmista dizendo que "nos próximos quatro meses, na Grande São Paulo, o número (de confirmações) deve subir para 45 mil casos". O médico, inclusive, insinua que faltarão leitos hospitalares para receber o contingente estimado de até 20% dessas pessoas infectadas. Para um profissional da área da Saúde, o mais sensato seria procurar acalmar a população com informações mais educativas e preventivas.
O momento realmente é de alerta para o crescimento de casos confirmados do Covid-19 no país, mas cabem, prioritariamente, ações de prevenção e de esclarecimento da população. Abarrotar postos de saúde e hospitais em busca de exames médicos para diagnosticar a doença; fechar as escolas e isolar crianças dentro de casa, onde o ambiente fechado é mais propício para a proliferação do vírus; e cancelar eventos públicos para evitar a aglomeração de pessoas são medidas extremas e que fatalmente ocorrerão. Porém, mais importante ainda é que as autoridades transmitam tranquilidade e controle da situação, o que não está acontecendo.