Em nossas incursões dominicais à casa de meu avô materno, só voltávamos - eu e meus pais - após o término do "Balança Mas Não Cai". À falta de emissoras de televisão na Bauru de outrora, a diversão era garantida por quadros que eram apresentados pelo rádio. Em um deles, cujo enredo me foge, um dos personagens dizia: "Esse caso tem jacutinga", enquanto outro respondia: "e no meio do mato é que está a catinga".
Inocente por natureza, rindo escancaradamente, jamais poderia imaginar que, tempos depois, no inverno da vida, depararia com situação peculiar que me levaria a relembrar o bordão.
Refiro-me à morte confusa de Adriano da Nóbrega. Sim, aquele mesmo que, encarcerado, após matar civil, foi condecorado pelo clã Bolsonaro como herói fluminense; sim, aquele mesmo que conhecia à fundo as "rachadinhas" propiciadas pelo então deputado Flávio Bolsonaro, o qual, aliás, empregava parentes do chefe miliciano - eis que Adriano ocupava destaque no crime organizado.
Procurado pela Justiça, seguiu para a Bahia, onde, por meio de clandestinas ajudas, se homiziou por quase ano, sendo morto, à queima roupa, em confronto armado com forças locais.
E aí a catinga.
Oficial condecorado do Bope - força de elite do Rio -, conhecedor profundo dos perigos do confronto armado, se proporia ao combate com mais de 70 policiais? Mesmo que assim não fosse, até por instinto, exporia sua vida, na certeza da perda? Se confronto houve - experiente, repito -, como permitiu que o grupo que o caçava chegasse a mais ou menos um metro de distância, quando recebeu os disparos fatais?
Mais que isso, imenso o número de agentes disponibilizados para prendê-lo, em não sendo questão de perigo iminente, por quê não se cercou a pequena casa em que se escondera, até a sua rendição, sem se apelar para a medida extrema da execução - assassinato, segundo Moro?
São questões que clamam por respostas, assim como a mais importante delas: a quem interessava o seu extermínio? À evidência: nesse caso, tem jacutinga!