Uma rua pacata, de paralelepípedos, no centro da cidade - longe de qualquer suspeita - abrigava um lava-rápido de fachada que, na verdade, escondia uma base criminosa que possivelmente era chefiada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) - facção que age dentro e fora dos presídios paulistas. Um fuzil, munições e drogas, foram localizados no local. Agora, o mais absurdo nesta história é que o estabelecimento fora da lei funcionava a poucos metros da Delegacia Central de Suzano. Pode-se afirmar que o esquema criminoso estava encravado nos arredores do fórum, da prefeitura e da câmara.
Esta audácia por parte do crime, de não se importar com quem mora ao lado, também foi presenciada no Alto Tietê em abril deste ano, quando um grupo de bandidos fortemente armado com fuzis, coletes e explosivos, invadiu a cidade de Guararema para atacar agências bancárias. Um dos bancos alvo dos bandidos fica bem ao lado da delegacia da cidade. A posição, no entanto, não inibiu a ofensiva criminosa que, naquela noite, terminou com 11 bandidos mortos e um preso.
As duas ações, em Suzano e Guararema, nitidamente foram orquestradas pelo crime organizado. Ao que parece, seria justamente este o alvo a ser combatido pelo Estado para que a escalada criminosa começasse a arrefecer. Ações como o isolamento total dos líderes dessas facções em presídios de segurança máxima e outras mudanças neste sentido já foram feitas neste ano.
Na opinião do cientista político americano Benjamin Lessing, professor da Universidade de Chicago (EUA), esse fenômeno de "faccionalização" só foi possível devido às políticas de encarceramento em massa. Lessing, inclusive, já viajou pelo Ceará, Rio Grande do Norte e Amazonas para tentar entender como uma organização formada num presídio se expande do lado de fora e controla mercados ilícitos.
É preciso combater o sistema transgressor que se espalhou pelo país e, vira e mexe, "mete o pânico" no Alto Tietê. Ações como isolar os líderes das facções e reforçar as operações para atingir o sistema financeiro das agremiações criminosas devem ser contínuas.