Uma mulher grávida foi atropelada em uma avenida movimentada da cidade. A televisão noticiou que ela e o bebê morreram.
A mulher não foi socorrida por quem a atropelou, que apenas fugiu. Existiam testemunhas do atropelamento, mas nenhuma que tenha anotado a placa do carro ou que pudesse identificar o motorista.
Pelo sistema de câmeras, a polícia conseguiu identificar o veículo, modelo, cor e, o mais importante, a placa. Foi descoberto o endereço do atropelador.
O primeiro policial a chegar no local encontrou o carro, "arma do crime", na garagem, amassado e com marcas de sangue. Ao tocar a campainha, foi atendido pelo advogado da família, que havia chegado antes.
A Imprensa, em ampla cobertura do caso, noticiou que o assassino havia sido identificado e que a polícia já estava em sua casa, assim como foi noticiado o endereço.
A multidão enfurecida rumou para lá. Acamparam nos portões da luxuosa mansão. Faixas e placas. Todos gritavam por justiça e disparavam ofensas ao "monstro" e, também, à sua mãe.
Passadas algumas horas, saíram da casa: o investigador de polícia, o advogado e o acusado, este último com o rosto coberto para preservar sua imagem e não ser identificado.
Pulou da multidão um homem, marido e pai das vítimas, que desferiu golpes com uma machadinha e matou aquele que cobria o rosto. Com a vingança, foi feita a justiça. Mais uma vez a multidão gritou: Justiça!!! Dessa vez, o grito da multidão era uma comemoração pela justiça alcançada. Caso encerrado.
O que ninguém viu foi o acordo celebrado na casa entre o milionário, o advogado, o policial e o caseiro. Todos aceitaram receber "algum dinheiro" e o caseiro seria responsabilizado pelo crime e, assim, permaneceria impune o filho do milionário, que atropelou a mulher por estar bêbado. O caseiro foi morto.
O povo, que estava na frente da casa, cego de raiva, nada viu e se foi feliz, com um agradável sentimento de justiça feita.
História retirada do excelente filme argentino: "Relatos Selvagens".